Anualmente vemos os preços subirem e os itens básicos ficando mais caros. No Brasil quem mede esse aumento oficialmente é o IBGE com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Porém, o IPCA atual de 1,34% parece não refletir a inflação em 2020 sentida pelos consumidores.
A inflação em excesso desvaloriza nossa moeda e diminui o poder de compra, principalmente dos mais pobres.
Com a divulgação dos dados de setembro de 2020, a inflação brasileira medida pelo IPCA foi de apenas 1,34% desde janeiro.
Mesmo com o IPCA baixo, os consumidores viram os preços de alimentos e aluguéis aumentarem muito desde janeiro.
O que podemos esperar da reforma administrativa do Ministro Paulo Guedes?
Inflação em 2020 é maior para os mais pobres
Para chegar aos resultados do IPCA, é considerada um “cesta” de bens e serviços, além da mercado por atacado e da construção civil.
Tudo isso para chegar em um índice que representa as intenções de compras do maior número possível de brasileiro.
Porém o ano de 2020 trouxe uma série de situações incomuns que podem mudar a abrangência desses dados.
É o que mostram os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) na inflação por faixas de renda.
Os indicadores mostram que entre janeiro e setembro, as famílias com renda abaixo dos R$ 1.650,50 sentiram um aumento de 2,5% na média dos preços.
Enquanto isso, as famílias mais ricas com renda acima dos R$ 16.509,66 viram os preços subirem apenas 0,25%.
A inflação para as famílias mais pobres foi 10 vezes maior que para as que ganham mais.
O principal motivo está na distribuição dos gastos em cada realidade. Enquanto os preços no mercado estão maiores, muitos serviços ficaram mais em conta.
Para quem ganha mais, os aumentos na alimentação não impactam tanto o orçamento. Enquanto isso os gastos com serviços como hospedagem, creche e passagens aéreas ficaram mais baratos.
Por que a conta do aluguel e do mercado estão ficando mais caras?
Se não bastasse o aumento do desemprego durante a pandemia, os brasileiros também viram os produtos do mercado e o aluguel subindo de preço em 2020.
Os motivos variam entre a alta do dólar e a procura por casa mais confortáveis durante o isolamento.
Além da desvalorização do Real, a procura por alimentos aumentou durante o isolamento.
Dentro e fora do país, a procura pelos produtos do campo aumentou e também empurrou os preços dentro do mercado.
No mercado externo, muitos países tiveram problemas na cadeia produtiva durante a crise e passaram a comprar mais produtos.
Com as exportações cada vez mais atraentes, o mercado interno também precisou pagar mais para abastecer o varejo.
O boletim do IPEA mostra que considerando os alimentos para domicílio, a alta foi em média 9,2% até setembro. Alguns produtos subiram ainda mais e também ficaram acima da inflação em 2020:
- Arroz: 41%
- Feijão: 34%
- Leite: 30%
- Óleo de soja: 51%
Os aumentos também foram expressivos na área de moradia. Nos últimos 12 meses o IGP-M (índice que reajusta os contratos de aluguel) registrou uma alta de 20,56%.
Aumentos constantes nos itens básicos podem agravar a desigualdade social
Desde o início do ano especialistas alertavam que tínhamos um grande desafio pela frente.
Para 2021 sabemos que temos muito o que correr para remediar os impactos da pandemia.
Desde o agravamento do desemprego, atraso nos estudos e aumento dos produtos básicos.
Mesmo antes da crise, o Brasil já era um país muito desigual. Conforme o relatório da ONU para 2018, nosso país já tinha a segunda maior concentração de renda, atrás apenas do Catar.
Com aumento no desemprego e dos custos básicos fica claro que as distâncias sociais podem ficar ainda maiores.
Cada vez mais próximo do final do ano, vai ficando claro que quem mais foi atingido pela crise do Covid-19 foram os mais pobres.
Em um ano com eleições é fácil perceber como os interesses públicos são trocados pelos interesses pessoais, mas é o povo brasileiro que paga pelas decisões de quem o governa.
Neste ano em que milhões de brasileiros precisaram trabalhar mais para comprar os mesmos produtos, não consigo entender como as reformas continuam sendo adiadas pelo governo.
Entre brigas políticas e ideológicas, as pautas realmente importantes estão sendo deixadas de lado. Precisamos exigir algum esforço político antes da chegada do recesso e que joguem tudo para o próximo ano como já é de costume.