O alto preço dos combustíveis se tornou um pesadelo para a maioria dos brasileiros. A gasolina, por exemplo, depois de ficar em média 45% mais cara em 2021, continuou tendo seu preço elevado nos primeiros meses de 2022, especialmente após o reajuste de 19% anunciado pela Petrobrás em 10 de março. A estatal fez um reajuste ainda maior no diesel, de 25%.
Uma pesquisa realizada pelo banco BTG Pactual entre sexta-feira (18) e domingo (20) revela que os brasileiros enxergam o presidente Bolsonaro como o principal culpado pelo alto preço dos combustíveis. 29% dos entrevistados apresentaram essa opinião.
Mas será que os combustíveis estão realmente mais caros no governo Bolsonaro do que nos governos anteriores? Como fazer essa comparação? Entenda a seguir.
Preço nos últimos anos
Quando comparamos apenas o valor nominal dos combustíveis à venda nos postos nos últimos anos, o aumento é impressionante. Em março de 2016, a gasolina registrou o preço mais alto durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff: R$ 3,73. Na gestão Bolsonaro, a gasolina chegou ao pico de R$ 7,267 na semana passada, após o último reajuste da Petrobrás. Os dados são da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
No entanto, considerando a inflação até o mês passado (quando foi divulgado o último IPCA), o preço recorde do governo Dilma seria hoje de R$ 5,05. Ou seja, 30,5% menor que o pico atual.
Corrigir pela inflação nos dá uma ideia mais exata de como os preços se comportam ao longo do tempo, já que a inflação diminui o poder de compra das pessoas. Mas ainda não é o bastante para entendermos a real diferença na valoração dos combustíveis ao longo dos últimos anos. É preciso considerar outros fatores.
Em março de 2016, o brasileiro precisou gastar R$ 186,50 com gasolina (vendida a R$ 3,73 o litro) para encher um tanque de 50 litros. Isso representava 21,19% do salário mínimo da época (R$ 880). Hoje, é necessário gastar R$ 363,35 com gasolina (vendida a R$ 7,267) para encher o mesmo tanque. Isso representa 29,98% do salário mínimo atual (R$ 1.212).
Ou seja, a evolução da renda do trabalhador no período ajuda a entender o peso que o preço dos combustíveis passou a ter. Desde que Dilma Rousseff deixou a presidência, o salário mínimo teve aumento real apenas na transição de 2018 para 2019 (aumento de 1,81%).
Se considerarmos a renda média do trabalhador, tal como registrada pela Pnad Contínua do IBGE, o resultado seria ainda pior. Esse indicador teve redução real de 8% na comparação entre o primeiro trimestre de 2016 e o trimestre encerrado em janeiro de 2022.
Petrobrás tem culpa?
Na pesquisa divulgada agora pelo BTG Pactual, 22% dos entrevistados disseram que a política de preços da Petrobrás é a causa principal para o alto preço dos combustíveis. Essa política foi alterada logo no início da gestão Temer, em 2016, e segue o mesmo padrão até hoje. Chamada de Preço de Paridade de Importação (PPI), ela determina que o preço dos combustíveis deve refletir os preços praticados no mercado internacional.
Isso tem garantido lucros recordes para os acionistas da estatal, incluindo o governo, que é o acionista majoritário. Por outro lado, os reajustes contínuos, em paridade com os preços internacionais, são a causa imediata para os preços altos registrados nos postos.
Defensores do PPI argumentam que ele é importante para manter a concorrência no setor e a sustentabilidade financeira da Petrobrás. No entanto, com a situação crítica dos combustíveis e a proximidade das eleições, cresce a pressão por uma intervenção do governo no sentido de alterar a política de preços da estatal.