O ministro da Economia Paulo Guedes tem se mostrado contrário ao reajuste salarial prometido pelo presidente Bolsonaro para os servidores. O Orçamento de 2022 foi aprovado no mês passado com R$ 1,7 bilhão reservados para esse fim, embora sem especificar que categorias seriam beneficiadas.
Ao que tudo indica, apenas policiais federais, policiais rodoviários federais e agentes penitenciários, setores mais ligados a Bolsonaro, teriam reajuste. Mas nem mesmo para eles a verba de R$ 1,7 bilhão seria suficiente.
Os demais servidores se revoltaram contra esse aumento seletivo e cobram, através de protestos, paralisações e ameaça de greve, que eles também sejam contemplados. Numa tentativa de acalmar os ânimos, Bolsonaro promete agora estender o reajuste para todas as categorias, mas jogando a responsabilidade para o próximo governo.
“Não tem folga no Orçamento para o corrente ano. Conversei com o pessoal sobre o Orçamento para o ano que vem. Sei que está bastante longe ainda, mas, por ocasião da feitura do mesmo, obviamente que os servidores serão contemplados com o reajuste salarial merecido” disse o presidente, em entrevista à Rádio Jovem Pan.
A Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe atos semelhantes, que impliquem aumento de despesa com pessoal após o fim de um mandato.
Já o ministro da Economia, em evento organizado pelo banco Credit Suisse na semana passada, criticou essa transferência de responsabilidade e relembrou que o governo atual teve que conceder aumentos prometidos na gestão de Michel Temer:
“Isso é muito irresponsável. Um governo não pode condenar o governo seguinte a dar um aumento de salários. Isso é absurdo. Agora se sentiram à vontade para fazer isso, me obrigaram a dar o aumento”, disse Paulo Guedes.
Reajuste em hora ruim
O ministro já havia declarado contrariedade ao reajuste para servidores em outras ocasiões. No fim de janeiro, ao apresentar o resultado fiscal de 2021, Guedes apontou que o reajuste não vem em boa hora:
“Qual o sentido de pedir reajuste de salário, mesmo agora, quando temos essa crise ainda conosco, nessa variante Ômicron? Temos que ter cuidado com os salários. Porque estamos ainda em guerra, e temos que pagar pela nossa guerra.”
O ministro tentou convencer Bolsonaro a não dar o reajuste para a área de segurança, alertando que a medida poderia causar um efeito cascata, pressionando aumentos para todo o funcionalismo.