Burnout tem nova classificação de doença pela OMS; como lidar com síndrome no trabalho?

Pontos-chave
  • Empresas serão responsabilizadas por funcionário diagnosticado por síndrome de Burnout;
  • Mudança na classificação foi determinada pela OMS em 2019;
  • Nova classificação da Burnout passa a vigorar este ano.

A Síndrome de Burnout ganhou uma nova classificação pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a CID 11. Deste ano de 2022 em diante, a doença terá várias formas de tratamento por parte das empresas, que deverão ter atenção redobrada ao tema. 

De agora em diante, a Burnout será tratada como um “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”, conforme disposto no texto que regulamenta a mudança. Até então, ela era entendida apenas como um problema de saúde mental em um quadro psiquiátrico. 

Originalmente, o debate sobre essa mudança teve início ainda em 2019, através de uma conferência realizada pela OMS na época, mas somente agora o documento entrou em vigor. Isso porque, para fazer qualquer alteração, a organização precisa analisar as estatísticas e tendências relacionadas à saúde. 

O texto original foi elaborado com o propósito de reconhecer doenças e problemas de saúde pelo mundo com referência nas mesmas diretrizes e códigos. Além da Burnout, a CID 11 também inseriu na lista, doenças voltadas ao pós-traumático, distúrbio em games e resistência antimicrobiana. 

Como a Síndrome de Burnout será abordada agora?

Conforme mencionado, a nova caracterização da OMS referente à Síndrome de Burnout aconteceu ainda no ano de 2019. Na época, a indicação era de que a doença deveria ser abordada como um fenômeno vinculado ao trabalho por meio das seguintes características e sintomas:

  • Sensação de esgotamento;
  • Cinismo ou sentimentos negativos relacionados ao trabalho;
  • Eficácia profissional reduzida.

No entendimento do médico psiquiatra, PhD e professor da Fundação Dom Cabral, Roberto Aylmer, a alteração na classificação da doença evidencia a relação com o ambiente de trabalho, trazendo a interpretação direta e indireta de responsabilidade da empresa sobre a saúde integral dos funcionários. 

Ele ainda disse ser óbvio criar este tipo de vínculo à empresa, e não ao funcionário. “O estresse mal administrado se torna um problema crônico relacionado ao local de trabalho e problemas de gestão da empresa”, afirmou. 

No entanto, o especialista ainda declarou que o reconhecimento pela OMS poderá ter como reflexo, processos trabalhistas relacionados ao tema. Na hipótese de o funcionário recorrer à Justiça por esgotamento, a empresa pode ser responsabilizada a pagar uma indenização em casos extremos. 

Na teoria, este tipo de responsabilidade já existe, embora não seja tão fácil de conquistar. Isso porque, considerando esta classificação e o diagnóstico médico, dificilmente a empresa ficará isenta da culpa, pois fica claro de que não é o trabalhador que se cobra demais internamente, e sim de que a empresa demanda mais do que deveria.

Perante a Justiça, a responsabilização da empresa será avaliada a partir do laudo médico capaz de comprovar a Burnout. Porém, é essencial que o histórico do profissional e uma avaliação do ambiente de trabalho com relatos de testemunhas sejam analisados. 

No geral, o procedimento consiste na coleta de provas de que o funcionário sofreu degradação emocional e demais fatores que desencadearam na síndrome. Alguns exemplos são o assédio moral, metas desproporcionais, cobranças agressivas, etc.

Aylmer explica que é bastante comum que o profissional acometida pela Burnout possua um bom histórico de performance no trabalho, mas que rapidamente é revertido em meio a mudanças expressivas no ambiente de trabalho, normalmente como a mudança na gestão ou nas demandas.

Dados sobre a Burnout

De acordo com o Índice de Bem-estar Corporativo do Zenklub em 2021, o sinal de alerta para a Burnout deve, essencialmente, estar ligado às empresas. O índice geral de bem-estar no mercado brasileiro recebeu uma nota de 49,25 em uma escala de 0 a 100. As empresas brasileiras ficaram abaixo do índice ideal de 78.

O levantamento contou com a participação de mais de 1.600 respostas de funcionários de 335 empresas. É importante explicar que, a depender da nota, determinados fatores tiveram influência, seja ela positiva ou negativa, sobre os dados gerais. A maior nota positiva foi para o relacionamento entre colegas de trabalho, de 74,68.

Em contrapartida, entre os fatores que afetaram negativamente o bem-estar geral, a Burnout aparece como o maior alerta, especialmente entre os profissionais que relatam sintomas de esgotamento. Outros dois fatores ainda aparecem como aviso mais preventivo. 

Em seguida está o alto volume de demanda e controle sobre o trabalho tirando a autonomia e pode levar a um quadro de Burnout. Junto está o fator de adição ao trabalho, que mostra o sentimento de sobrecarga em alta entre os profissionais.

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Laura Alvarenga
Laura Alvarenga é graduada em Jornalismo pelo Centro Universitário do Triângulo em Uberlândia - MG. Iniciou a carreira na área de assessoria de comunicação, passou alguns anos trabalhando em pequenos jornais impressos locais e agora se empenha na carreira do jornalismo online através do portal FDR, onde pesquisa e produz conteúdo sobre economia, direitos sociais e finanças.