O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem (16), em entrevista à TV Ponta Negra, afiliada do SBT no Rio Grande do Norte, que o fim da pandemia será decretado até o fim de março. Bolsonaro diz ter conversado sobre o tema com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que confirmou esse prazo.
“Eu tenho conversado com ele [o ministro Queiroga]. Ele já sinalizou há poucos dias que seria uma portaria dele, como define a lei. Nós aqui sairíamos da pandemia e entraríamos na endemia. Ou seja, isso deve acontecer até o fim desse mês. É isso que tá sendo previsto pelo Ministério da Saúde”, declarou o presidente.
Bolsonaro já vem comentando sobre decretar o fim da pandemia há algum tempo, mas essa foi a primeira vez que ele estabeleceu um prazo. Por coincidência ou não, o decreto viria no mesmo momento em que o presidente deve começar a sua campanha para reeleição. Já está marcado par o dia 26 de março o evento de lançamento da sua pré-candidatura.
Justificativa
Na entrevista concedida ontem, Bolsonaro defendeu que não há mais necessidade de se manter todos os cuidados contra a Covid-19.
“Realmente, não se justifica mais todos esses cuidados no tocante ao vírus, porque todo mundo vê que praticamente acabou isso daí, […] o povo abandonou praticamente máscara e outros cuidados, porque praticamente chegou ao fim [a pandemia]”, argumentou o presidente.
Em seguida, Bolsonaro atribuiu a melhora da pandemia à vacinação e aos esforços do governo federal, especialmente dos ministros da Saúde.
“Um programa de vacinação muito bem feito pelo ministro Queiroga e também pelo ministro Pazuello […] Grande parte da população [foi] imunizada com recursos do governo federal. Deixo bem claro que nenhum governador pagou ou comprou uma vacina sequer no Brasil.”
Cedo demais
As medidas de prevenção contra a Covid-19 realmente estão sendo relaxadas desde o ano passado e já há capitais, como o Rio de Janeiro, em que o uso de máscara não é mais obrigatório em qualquer ambiente.
Especialistas, no entanto, acreditam que é muito cedo para se considerar que a pandemia acabou. A média móvel de mortes diárias por Covid-19, por exemplo, apenas nas últimas semanas ficou abaixo de 400. Isso faz com que a doença ainda seja a principal causa de óbito no país. A própria Organização Mundial da Saúde já alertou para a possibilidade de uma nova onda de casos.
Bolsonaro se refere a um decreto para “substituir” a pandemia pela endemia. Na visão de especialistas, isso é um erro. Em primeiro lugar, por que endemias são doenças que ocorrem apenas em uma região, o que não é o caso da Covid-19, que é uma pandemia, ou seja, ocorre em todo o planeta. Além disso, a medida enfraqueceria mecanismos que foram criados para lidar com a doença.
Ao ser questionado sobre as afirmações do presidente, o Ministério da Saúde negou que planeje decretar o fim da pandemia. A pasta afirmou que, no momento, considera apenas o fim do estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin), decretado antes da pandemia.