Após destinar parte do orçamento de 2022 para reajustar o salário de policiais, o governo Bolsonaro pode ter uma nova dor de cabeça: a pressão dos outros servidores. É que apenas uma categoria foi contemplada com o acréscimo, o que gerou um debate forte entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro da Economia, Paulo Guedes.
O próprio governo avaliou que podem haver manifestações das demais categorias pressionando para que também recebam algum tipo de reajuste salarial. Preocupado com a situação, Guedes enviou um texto ao presidente, ministros e integrantes do governo alertando sobre uma possível quebra do país.
“Se aumentarmos os salários e a doença (Covid-19) voltar, QUEBRAMOS!”, diz o texto enviado pelo ministro contendo várias expressões em letras maiúsculas.
A mensagem do ministro chegou em primeiro mão ao colunista da Globo, Lauro Jardim, e logo tratou de ser notícia na imprensa.
O desespero de Guedes quanto a pressão dos servidores foi tanto, que o ministro chega a comparar a situação com a tragédia em Brumadinho (MG).
“Temos que ficar FIRMES ! (Do contrário, os aumentos serão igual a) Brumadinho: pequenos vazamentos sucessivos até explodir barragem e morrerem todos na lama”.
Por que os reajustes são tão preocupantes?
Policiais federais, agentes de penitenciárias e da Polícia Rodoviária Federal, ganharão um reajuste em seus salários a partir de 2022. Tudo indica que essa seja uma estratégia do governo para alavancar sua candidatura política no próximo ano.
Acontece que, como já foi tratado aqui no FDR, os outros servidores públicos não foram inclusos nesse reajuste. O próprio Ministério da Economia, a pedido da Folha de S.Paulo, admitiu em uma pesquisa que 1 milhão de servidores não têm reajuste salarial desde 2017.
Entre eles, os atuantes na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Funai (Fundação Nacional do Índio), Abin (Agência Brasileira de Inteligência), e profissionais da saúde da Previdência.
Logo, beneficiar apenas um grupo deve acarretar em uma desordem política dentro do atual governo. Quando na verdade a ideia era justamente conseguir mais votos em 2022, o presidente pode ter dado um verdadeiro tiro no pé ao “esquecer” das outras classes.
Um exemplo disso é a debandada de auditores fiscais da Receita Federal que após discordarem do presidente pediram demissão de seus cargos.
Outra preocupação de Guedes tem haver com a economia, já que reajustes salariais podem impactar gravemente as contas públicas.
“Estamos em ECONOMIA DE GUERRA contra a PANDEMIA. Quem pede aumento agora não quer pagar pela guerra contra o vírus”, declara em mensagem.
O ministro aproveitou para defender que seja aprovada uma reforma administrativa, o que seria uma alternativa para os reajustes.