O lançamento da renegociação das dívidas do Fies no mês passado foi visto por milhares de jovens como a possibilidade de finalmente quitar os seus débitos atrasados com o programa de financiamento estudantil. Para muitos deles, no entanto, a realidade tem ficado bem abaixo das expectativas.
A renegociação é voltada para os contratos de financiamento firmados até 2017. Para aqueles que estão sem pagar a dívida há mais de 360 dias, é possível conseguir desconto de 92%, caso sejam inscritos no CadÚnico ou tenham recebido Auxílio Emergencial, e desconto de 86,5% nos demais casos.
Esses descontos são muito vantajosos, mas para aqueles que estão com atraso de 90 a 360 dias as condições não são tão atraentes. Para eles, há um desconto de 12% no pagamento à vista e possibilidade de parcelar em até 150 vezes, sem juros e multas.
Muitos estudantes, após conseguirem o diploma num curso pago graças ao Fies, não conseguiram se inserir no mercado profissional como planejado. Alguns enfrentaram longos períodos de desemprego ou ainda estão desempregados, e há ainda aqueles que não conseguem uma remuneração que permita quitar as parcelas do programa em dia. Esse quadro já vem ocorrendo há alguns anos e foi agravado pela pandemia de Covid-19.
Para piorar, a maioria das dívidas dos estudantes com o Fies é alta, a partir de R$ 30 mil, sendo superior a R$ 50 mil em alguns casos. Um desconto de apenas 12%, portanto, torna praticamente impossível, para a maioria deles, quitar a dívida à vista.
E o parcelamento em até 150 vezes, mesmo contando com o perdão de juros e multas, também não é uma solução viável para a maioria dos jovens endividados. Isso porque o valor das parcelas, após a renegociação, continua num patamar alto, entre R$ 400 e R$ 600 em média.
Decepcionados com as condições oferecidas na renegociação, muitos estão optando por aguardar até que o atraso no pagamento supere os 360 dias, o que dará acesso a condições bem mais vantajosas. O que o governo parece ter feito, na prática, é obrigar esses jovens a prolongar a sua inadimplência com o Fies.
O total das dívidas dos estudantes que participaram do programa é de R$ 87 bilhões, sendo a maior parte contemplada na renegociação. Integrantes do governo e o presidente da Caixa criticaram a forma como o Fies foi projetado, mas é inegável que as condições econômicas do país e um plano mal elaborado de renegociação agravam o problema da dívida.