“Tenho 21 anos, já tô surtando. 90% da minha ansiedade é porque eu sou pobre”

Um vídeo compartilhado pelo perfil Poponze, no X (antigo Twitter), viralizou ao mostrar um jovem brasileiro de 21 anos. Nele, o jovem relata, em lágrimas, que “90% da ansiedade dele é causada pela pobreza”.

O desabafo, que já acumula mais de 284 mil visualizações e 12 mil curtidas, rejeita a ideia de romantizar a vida pobre. Assim, expõe a pressão psicológica enfrentada por milhões de jovens no Brasil.

Pobreza e saúde mental: números preocupantes

Segundo o Banco Mundial, cerca de 21% a 23% da população brasileira vive em situação de pobreza (dados 2024-2025).

Pesquisas mostram que pessoas de baixa renda em áreas urbanas têm 2 a 3 vezes mais risco de desenvolver ansiedade ou depressão. Estes números são diferentes da ideia que muitos têm de associar pessoas a classes mais altas a estas doenças.

O desabafo do jovem, no entanto, encontrou eco em milhares de comentários. Neles, internautas relacionaram dificuldades financeiras a quadros de pânico, crises de choro e frustração com o futuro.

Muitos apontaram também o peso das redes sociais, que intensificam a sensação de comparação e fracasso ao exibir estilos de vida inalcançáveis para grande parte da população.

Jovem de 21 anos desabafa ao falar que sua ansiedade é porque ele é pobre
“90% da minha ansiedade é porque eu sou pobre” ─ Imagem: Reprodução/X

A geração “nem-nem” e a dificuldade de inserção

O caso também reacende o debate sobre a chamada geração nem-nem — jovens que nem estudam, nem trabalham.

No Brasil, estima-se que mais de 9 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos se enquadrem nessa condição, segundo o IBGE.

A falta de oportunidades, aliada a um mercado de trabalho competitivo e a precarização dos empregos, alimenta sentimentos de desesperança.

Especialistas em psicologia social, diante deste cenário alertam. A combinação de baixa renda, instabilidade e pressão por sucesso cria um terreno fértil para transtornos mentais.

Por isso, não é incomum ver jovens relatarem sentir que a vida adulta chega sem a perspectiva de conquistas que marcaram gerações anteriores. Como, por exemplo, comprar uma casa ou alcançar estabilidade financeira.

Crise econômica e juventude: um ciclo difícil

A ansiedade citada no vídeo está ligada não só às condições individuais, mas também a um contexto estrutural. Ou seja: inflação elevada, endividamento recorde das famílias e a exigência de múltiplas qualificações profissionais.

Em meio a esse cenário, o discurso do jovem viralizou justamente por traduzir em poucas palavras o que milhares de brasileiros vivem. É o impacto direto da pobreza sobre a saúde emocional.

Enquanto isso, nas redes sociais, a discussão cresce e ganha força como denúncia contra o peso da desigualdade.

Para muitos, o vídeo, portanto, soa mais do que como um desabafo. É visto, sobretudo, como um retrato cru de uma nova geração que já sente que está “surtando” diante da incerteza do futuro.

Moysés BatistaMoysés Batista
Moysés é Bacharel em Letras pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Além de ter entregue mais de 10 mil artigos em SEO nos últimos anos, tem se especializado na produção de conteúdo sobre benefícios sociais, crédito e notícias nacionais.