ADULTIZAÇÃO INFANTIL: Uso de maquiagem e cosméticos em crianças gera riscos psicológicos e dermatológicos

VITóRIA DA CONQUISTA, BA — Recentemente, uma denúncia feita pelo Youtuber Felca contra o influencer Hytalo Santos gerou um importante debate sobre a adultização infantil, que pode ser percebida pelo uso precoce de cosméticos e maquiagem por crianças. Especialistas da USP aboram o tema e os seus impactos para essa parcela da população.

O debate sobre a adultização infantil se intensifica em meio ao crescente consumo de conteúdos digitais, que, cada vez mais, expõem as crianças a práticas de cuidados pessoais, como o uso de produtos de beleza destinados a adultos. 

ADULTIZAÇÃO INFANTIL: Uso de maquiagem e cosméticos em crianças gera
riscos psicológicos e dermatológicos
Imagem: Geração/FDR

O que é adultização?

O fenômeno da “adultização precoce” das crianças é caracterizado pela antecipação de comportamentos típicos dos adultos, como o uso de maquiagem, o interesse excessivo pela aparência e o consumo de cosméticos, que não são adequados para o desenvolvimento da infância.

A professora Luciana Caetano, do Instituto de Psicologia da USP, destaca que esse processo está atrelado ao fato de que as crianças estão perdendo o direito de vivenciar sua infância de maneira plena.

Elas começam a se preocupar com questões como estética e beleza, que fazem parte do cotidiano adulto, em detrimento de atividades próprias da infância, como brincar ao ar livre e a construção de amizades.

A professora também aponta que a pressão do marketing voltado para o público infantil tem um papel central nesse fenômeno. Estratégias publicitárias envolvem as crianças em um consumo excessivo de produtos de beleza, sem que elas possuam a maturidade necessária para tomar decisões conscientes sobre os impactos desse consumo.

Além disso, as relações familiares também desempenham um papel crucial nesse processo. A ausência de um envolvimento mais próximo dos pais e a falta de limites no uso de tecnologias contribuem para que as crianças se distanciem de atividades saudáveis e se apropriem de comportamentos mais adultos.

Consequências Psicológicas e Sociais

Os riscos de adultização precoce vão além dos danos estéticos e envolvem sérios impactos na saúde mental das crianças. A pressão constante para atender aos padrões de beleza impostos por influenciadores e campanhas publicitárias pode gerar ansiedade, distúrbios alimentares e até quadros de depressão.

Luciana Caetano ressalta que esses distúrbios são comuns entre jovens que não viveram adequadamente os processos de desenvolvimento da infância, incluindo a construção de valores essenciais para a vida, como a valorização da educação e do conhecimento.

Além disso, a busca excessiva pela aparência e a valorização do corpo podem levar a um desinteresse generalizado pela escola, pela leitura e pela ciência, prejudicando o desenvolvimento intelectual da criança. A busca por padrões estéticos também interfere na formação de valores mais profundos, como a empatia, a solidariedade e o respeito à diversidade.

Riscos Dermatológicos

Do ponto de vista dermatológico, o uso de produtos de maquiagem e skincare inadequados para a pele infantil também é alarmante. A médica Paula Yume, dermatologista da Faculdade de Medicina da USP, explica que a pele das crianças é mais fina e menos madura, o que a torna mais vulnerável aos efeitos de cosméticos que não foram desenvolvidos para essa faixa etária.

O uso de maquiagens destinadas a adultos pode causar alergias, dermatites e outros problemas de pele, devido à presença de substâncias irritantes, como fragrâncias, corantes e metais pesados.

Yume também alerta sobre o risco de usar produtos anti-idade e cosméticos de adultos em crianças. A pele jovem, rica em colágeno e fibras elásticas, não necessita de cremes anti-idade, e o uso desses produtos pode ser desnecessário e até prejudicial, visto que o envelhecimento da pele é um processo natural que ocorre com a exposição ao sol e outros fatores ambientais.

Prevenção e Conscientização

A prevenção do fenômeno de adultização precoce passa, antes de tudo, pela conscientização dos pais, educadores e profissionais de saúde. É fundamental que os pais estejam atentos aos sinais de que seus filhos estão se distanciando de comportamentos típicos da infância, como brincar ao ar livre e se envolver em atividades criativas.

A escola também desempenha um papel importante ao orientar as famílias sobre os impactos negativos do uso excessivo de telas e cosméticos inadequados para a faixa etária das crianças.

Em termos de cuidados dermatológicos, a recomendação é evitar o uso de maquiagens e produtos de skincare de adultos em crianças, optando sempre por produtos hipoalergênicos, específicos para a pele infantil e aprovados por agências reguladoras. Além disso, é essencial garantir que a rotina de cuidados com a pele da criança inclua apenas o básico: sabonetes suaves, hidratantes adequados e, principalmente, protetor solar.

A “adultização precoce” é um fenômeno preocupante que ameaça a saúde física e psicológica das crianças, e a conscientização sobre os riscos do uso precoce de cosméticos é fundamental para preservar a infância e promover um desenvolvimento saudável.

Jamille NovaesJamille Novaes
Formada em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), a produção de texto sempre foi sua paixão. Já atuou como professora e revisora textual, mas foi na redação do FDR que se encontrou como profissional. Possui curso de UX Writing para Transformação Digital, Comunicação Digital e Data Jornalismo: Conceitos Introdutórios; e de Produção de Conteúdos Digitais.