A empresa de entregas por aplicativo Ifood terá que pagar um salário mínimo (R$ 1.212) por mês a um entregador atingido por bala perdida em Salvador (BA), em 2 de novembro do ano passado. Yuri de Jesus Monteiro, de 24 anos, fazia a última entrega do dia quando foi baleado no bairro São Marcos, entre a Via Regional e a Avenida Maria Lúcia. O projétil teria saído de um veículo que disparava a esmo.
O entregador ainda conseguiu dirigir sua moto até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde recebeu primeiros socorros, e depois foi transferido para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde passou por cirurgia e ficou internado por 16 dias. Desde então, Yuri faz fisioterapia pelo SUS, mas ainda não tem a sensibilidade em uma das mãos, o que o impede de retornar ao trabalho.
Ele alega não ter recebido nenhuma ajuda financeira da Ifood, com a qual entrou em contato diversas vezes. A empresa chegou a encaminhá-lo para uma seguradora, mas a seguradora disse ter cobertura para lesão temporária apenas nas cidades de São Paulo, Curitiba e Goiânia. Em Salvador, somente casos de morte acidental e invalidez permanente seriam cobertos.
Ainda internado no HGE, Yuri procurou ajuda do projeto Caminhos do Trabalho, organizado pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) em parceria com o Ministério Público do Trabalho da Bahia (MPT-BA). O projeto tem se especializado na defesa dos direitos de trabalhadores precarizados, especialmente entregadores de delivery e atendentes de call centers.
O Caminhos da Terra está auxiliando Yuri a conseguir um benefício pelo INSS e também acionou a Justiça para que o Ifood preste um apoio financeiro ao entregador. Na última terça-feira (12), cinco meses após o incidente, a juíza do Trabalho Viviane Christine Martins Ferreira determinou que a empresa pague um salário mínimo a Yuri até que ele consiga um auxílio-acidente ou se recupere da lesão.
Segundo um dos coordenadores do projeto, o economista Vitor Filgueiras, é a primeira vez que uma empresa de delivery é intimada a pagar um auxílio desse tipo a um trabalhador. Ele também considera a decisão importante para que Yuri tenha mais tranquilidade na sua recuperação e na busca dos seus direitos.