O conflito entre Rússia e Ucrânia está gerando consequências em diversos níveis e em todo o mundo. O principal impacto é nos preços de produtos com volumes significativos de exportação provenientes das duas nações. Diversos organismos internacionais, além de empresários e analistas do setor, alertam para uma elevação dos preços de alimentos, que são diretamente impactados pela guerra.
Por um lado, os produtos agrícolas devem ficar mais caros devido aos entraves na circulação de fertilizantes. A Rússia é um dos principais exportadores desses produtos, sendo, especialmente, a principal fornecedora para o agronegócio brasileiro. Isso se refletiu, inclusive, na postura adotada por nossas autoridades em relação ao conflito.
Mas o abastecimento de fertilizantes já vinha passando por turbulências antes mesmo de a guerra começar. A China resolveu proibir exportações desses insumos para abastecer seu mercado interno, enquanto Belarus, outro exportador de peso, teve o fluxo das suas mercadorias para o Mar Báltico bloqueado.
E até mesmo a elevação no preço do gás natural (do qual a Rússia é o maior exportador) impactou nesse cenário, já que se trata de um insumo usado na produção de fertilizantes nitrogenados, os mais utilizados pela agricultura em todo o mundo.
Noutra frente, o fato de Rússia e Ucrânia serem grandes fornecedores de alimentos impacta diretamente no preços globais desses produtos. A Rússia é a maior exportadora de trigo e os dois países juntos respondem por 30% do fornecimento mundial de cereais.
Os países mais pobres devem ser os mais afetados por essa crise. Eles concentram a maior parte da população em situação de insegurança alimentar, algo que foi agravado pela pandemia. Um exemplo de como a guerra pode ser prejudicial nesse sentido é o fato de que Rússia e Ucrânia proveem 70% do estoque do Programa Mundial de Alimentação, importante iniciativa das Nações Unidas para populações pobres.
A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), inclusive, já alertou que o conflito pode fazer os preços dos alimentos em todo mundo subirem cerca de 20%.
Os reflexos dessa crise já começam a ser sentidos aqui no Brasil. Depois de um 2021 com recorde de inflação (10,06% de alta no IPCA, pior resultado desde 2015), os alimentos devem ficar ainda mais caros para os brasileiros, influenciados pelos fatores citados acima, além de outros, como os combustíveis.