Entenda como crise na energia pode aumentar inflação e preço de alimentos

Pontos-chave
  • Crise hídrica pode causar racionamento de energia;
  • Crise pode elevar o preço dos alimentos;
  • Brasil passa pela pior seca nas hidrelétricas dos últimos 91 anos.

Nesta semana, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a crise hídrica que reduz as reservas das hidrelétricas pode elevar a inflação e impactar a política monetária do Brasil. 

Entenda como crise na energia pode aumentar inflação e preço de alimentos
Entenda como crise na energia pode aumentar inflação e preço de alimentos (Imagem: José Fernando Ogura/AEN)

O alerta sobre os riscos intrínsecos à questão da energia e da pressão na inflação e preço dos alimentos, foi dado durante um evento promovido pelo Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements, BIS). A taxa de juros é o mais importante instrumento do Banco Central para controlar a inflação. 

Os debates a respeito das mudanças no clima levou Neto a considerar as demandas que as pessoas tem utilizado para sair da crise, exigindo soluções que também englobem  sustentabilidade e inclusão social.

“No nosso caso, é importante não só falar de clima, mas também dos aspectos sociais e de meio ambiente. Nós olhamos para isso e como isso afeta a política monetária”, disse Neto no evento.

O presidente do BC disse ainda que:

“Nós temos todos esses choques, e isso está de volta ao Brasil porque agora nós estamos falando de uma crise de energia no Brasil de novo, porque não está chovendo o suficiente. E isso tem um efeito na inflação, no preço de alimentos, em tudo que fazemos”.

Secretário é a favor da privatização da Eletrobras 

A crise de água está causando alertas no governo. Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia, afastou um possível racionamento, porém, pediu que a população utilize a a energia de forma mais consciente.

O secretário de políticas econômicas, Adolfo Sachsida, aproveitou para dizer que o problema evidencia a necessidade de privatizar a Eletrobras.

Por fim, o secretário de Fazenda, Bruno Funchal, alertou para os perigos que essa crise pode representar para a retomada da economia e os reflexos na inflação.

Pior seca dos últimos 91 anos

O Brasil está passando pela pior seca nas hidrelétricas da região Sudeste/Centro-Oeste os últimos 91 anos. 

Com isso o governo já vem se preparando para aplicar medidas que possam assegurar o fornecimento de energia, como por exemplo, um leilão extra para contratação de termelétricas que não integram o sistema de fornecimento de energia elétrica do país.

A finalidade disto é assegurar o fornecimento de energia e evitar qualquer possibilidade de racionamento no segundo semestre. Estão sendo criadas medidas de restrição à navegação por hidrovias e da utilização de água para irrigação, para preservar os reservatórios.

Risco de racionamento

Pela primeira vez, o governo federal emitiu um alerta de “risco hídrico” que abre possibilidade para que medidas que evitem um possível racionamento de energia. As providências devem ser aplicadas até outubro, período de escassez de chuvas e de seca na região sudeste e centro-oeste.

O alerta foi dado na semana passada, pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico. Foi emitido também pelo Serviço Nacional de Meteorologia, um alerta de emergência hídrica para a bacia do Paraná até o mês de setembro. O problema afetaria as regiões Sudeste e Centro Oeste.

s medidas abrem espaço para que a Agência Nacional de Águas (ANA) determine, já nas próximas semanas, a diminuição da vazão dos reservatórios de hidrelétricas.

A razão das medidas é o baixo volume de chuvas nos últimos meses. De acordo com dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o volume de chuvas ficou abaixo do normal para o mês de maio, problema que pode piorar nos próximos meses.

Os especialistas do setor afirmam que existe um risco real de cortes no fornecimento de energia entre os meses de setembro e outubro, pois o volume de chuvas só deve se normalizar em novembro.

A medida porém, bate nas esferas políticas do governo, que receiam o efeito dela na inflação que já afeta a população mais carente. Mas, o risco de acontecer um racionamento no segundo semestre cresce a cada dia.

Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, diz que o governo já deveria ter criado formas para reduzir o consumo de energia em todo o país. Aplicando por exemplo, a bandeira vermelha e o reajuste no valor-referência para preços no mercado livre de energia.

“A matriz elétrica é muito refém do clima, em parte por falta de planejamento”, afirma Pires, que avalia que desde 2009 o Brasil é falho no planejamento e em medidas garantam a segurança energética ao país.

Paulo AmorimPaulo Amorim
Paulo Henrique Oliveira é formado em Jornalismo pela Universidade Mogi das Cruzes e em Rádio e TV pela Universidade Bandeirante de São Paulo. Atua como redator do portal FDR, onde já cumula vasta experiência e pesquisas, produzindo matérias sobre economia, finanças e investimentos.