Nesta quinta, 25, foi aprovado o corte de 88% no orçamento do Censo Demográfico e a realização da pesquisa neste ano é incerta. Isto já vem preocupando os especialistas da área da saúde que precisam dos dados da pesquisa para realizar estudos científicos.
Os profissionais alertam para o risco de um apagão estatístico em meio a maior crise sanitária já experimentada. Como consequência, a defasagem do Censo, que já dura onze anos, pode prejudicar as políticas públicas para os próximos anos.
Ontem, o Ministério Público juntamente com o TCU (Tribunal de Contas da União) solicitou que a corte estabelecesse a retomada da realização do Censo imediatamente.
A solicitação foi baseada em uma reportagem publicada no O Globo, que revelava que o atraso na pesquisa prejudicaria o repasse de recursos a municípios.
O Censo é a pesquisa mais completa feita no Brasil, e contém informações detalhadas a respeito da população e das condições de moradia em mais de 5,5 mil municípios.
Os dados demográficos do Censo são usados por médicos e pesquisadores para elaborar indicadores e planejar intervenções na área da saúde.
Os dados demográficos costumam ser usados como denominador de taxas como expectativa de vida, fecundidade, incidência e prevalência de doenças e proporção de leitos hospitalares por população.
A falta de recursos do governo federal para a realização de pesquisas do IBGE não é uma situação inédita. Estudos mais recentes já foram suspensos ou adiados, como a contagem da população brasileira em 2015, que foi adiada para 2016 e depois cancelada. A última contagem foi feita no Censo de 2010.
Especialista critica o corte
José Eustáquio Diniz, sociólogo e doutor em demografia, diz em entrevista ao Globo que o país já sofreu com o adiamento do Censo de 1990 que atrasou estudos e prejudicou séries históricas.
Porém, ele ressalta que diante do momento atual da pandemia, adiar a pesquisa junto com a redução de verba e crise sanitária transformam a falta das estatísticas ainda mais grave.
“Somos uma sociedade da informação e cada vez mais as pessoas precisam dela. Plataformas como Google, Facebook, Waze, que utilizam big data, se não tiverem o tamanho correto de uma população ficam prejudicadas porque não têm como calibrar. Não ter o Censo nesse momento atual é mais grave do que no passado”, disse.