De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o preço dos alimentos cresceu 15% no acumulado desde o começo da pandemia do coronavírus. Este resultado é quase o triplo da inflação geral no mesmo período: 5,20%. Jair Bolsonaro culpa as práticas de isolamento social por este crescimento. Mas ele está certo?.
De acordo com especialistas, o presidente está errado. Eles dizem que a pandemia impactou, mas não tanto quanto o aumento do dólar frente ao real, que seria a principal razão da subida dos alimentos.
“Isso o Bolsonaro não gosta muito de assumir. A desvalorização da nossa moeda aconteceu pela incerteza na economia, associada ao aumento do déficit e dos gastos públicos e ao risco que a covid-19 causou na economia brasileira”, diz o economista André Braz, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
O economista ressalta que as medidas de isolamento impactaram nos preços, porém sem a capacidade de superar a variação cambial.
Como o dólar se tornou o principal culpado pela alta dos alimentos
Em meio a pandemia, o real perdeu 22% do seu valor em relação ao dólar. Existem duas razoes que explicam como isso impactou o preço dos alimentos, segundo especialistas.
A primeira razão é que como a maior parte do preço de custo de produção dos alimentos é ligada ao dólar e o real está desvalorizado. Essa diferença cambial que o produtor paga a mais é repassada para o consumidor final nos supermercados.
E ainda, com o real barato, é como se os produtores brasileiros estivessem em promoção para o mercado externo. Foi o que aconteceu no ano passado com o arroz: 35 países aumentaram as importações do Brasil e outros 25 começaram a comprá-lo.
Patrícia Costa, economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) diz que o dólar caro faz com que o produtor de preferência as exportações, causando um esvaziamento do mercado local. Isto resulta em um preço maior em razão da procura e pouca oferta.
“O empresário exporta em dólar e troca por real, ganhando muito mais. Quando isso acontece, estimula a exportação sem existir uma reserva para o mercado interno, que é uma estratégia de política nacional. No Brasil, essa reserva não ocorre”, explicou.