- Agropecuária foi o único setor que obteve um crescimento em 2020;
- PIB registra maior queda desde o início da atual série histórica;
- O resultado foi um pouco melhor que o projetado por 40 analistas consultados.
A economia brasileira sofreu com o impacto causado pela pandemia do coronavírus e registrou uma queda de 4,1% em 2020. Porém, mesmo com essa queda, o resultado foi melhor que grandes economias regionais graças aos auxílios que foram pagos a milhões de cidadãos como forma de atenuar a falta de renda. Os dados foram divulgados ontem, 3.
O resultado foi um pouco melhor que o projetado por 40 analistas consultados. Segundo eles, era esperada uma queda de 4,2%.
A agropecuária foi o único setor que obteve um crescimento (2%), ao passo que a indústria caiu 3,5% e os serviços 4,5%, de acordo com os dados do IBGE.
Confira o desempenho por atividade no PIB:
- Consumo das famílias: -5,5%
- Consumo do governo: -4,7%
- Serviços: -4,5%
- Indústria: -3,5%
- Investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo): -0,8%
- Agropecuária: +2%
Observando a demanda, os investimentos tiveram queda de 0,8% e consumo das famílias caiu 5,5%, mesmo com o preocupantes 13% entre os meses de janeiro e junho.
PIB
O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, a maior economia latino-americana, soma R$7,4 trilhões, em valores correntes. Já o PIB per capita, teve uma queda de 4,8%, indo para R$35.127, informou o IBGE.
O crise da economia de 2020 foi muito menor do que o projetado pelo FMI em junho (-9,1%) e do que de outras economias regionais, como México (-8,5%) ou Argentina (-10%), graças ao auxílio emergencial pago pelo governo entre abril e dezembro a um terço dos 212 milhões de cidadãos.
Porém, mesmo com esse resultado, o IBGE diz que essa é a maior queda desde o início da atual série histórica do instituto iniciada em 1996. E a terceira desde o início do século 20, após as de 1981 (-4,25%) e 1990 (-4,35%), no período conhecido como “década perdida” da América Latina.
Este dados levam também a uma nova “década perdida” da maior economia latino-americana, com crescimento médio de 0,30% ao ano, ou seja, inferior ao de 1981 a 1990 (1,66%).
A divulgação de dados melhores do que o projetado não impactou de forma significativa a Bolsa de São Paulo, que estava em baixa de 0,4% na manhã desta quarta.
O economista Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, afirma que o PIB “não surpreendeu” e “a alta do dólar, que favoreceu muito as exportações agrícolas, ajudou bastante a evitar uma queda mais significativa”.
Pandemia ameaça crescimento do Brasil
O Brasil vinha se recuperando da crise de 2015/16, momento em que o PIB caiu 6,7% em dois anos, porém a pandemia do coronavírus levou o país a mergulhar na recessão no segundo trimestre do ano passado.
O auxílio emergencial fez com que o país tivesse uma recuperação no terceiro trimestre (+7,7%), terminando o quarto com alta de 3,2% em comparação com o trimestre anterior, acima dos 2,8% projetado pelos analistas.
Mas, o auxílio foi encerrado em janeiro, momento em que o Brasil voltava a registrar um novo aumento de casos.
Este cenário se agrava por conta da demora na campanha de vacinação e pelas declarações e questionamentos vindas do presidente Jair Bolsonaro a respeito da eficácia das vacinas e das medidas de isolamento.
“O crescimento trimestral de 3,2% no quarto trimestre, acima das expectativas, confirma que a economia teve no ano passado um dos melhores resultados da América Latina”, diz a consultoria Capital Economics.
“Mas fortes evidências sugerem que a recuperação desacelerou este ano, enquanto o agravamento do surto de covid-19 prejudica as perspectivas no mínimo durante os próximos meses”, finalizou.
Os analistas projetam uma nova queda do PIB no primeiro trimestre de 2021, com um segundo trimestre em dúvida e uma recuperação acontecendo somente no segundo semestre, para fechar 2021 com uma expansão de 3,29%, segundo as projeções do mercado.
A expectativa do mercado vai de encontro com a linha seguida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que afirmou prever que a economia do país cresça entre 3% e 3,5% neste ano.
A previsão atual de Guedes é mais moderada do que suas últimas expectativas. No final de janeiro, em uma transmissão com investidores, o ministro afirmou que a economia poderia crescer até 5% neste ano se o Executivo e o Legislativo parasse de “jogar pedra um no outro”