- O governo sugere criar uma meta para o nível de reservas cambiais;
- A proposta visa diminuir a grande volatilidade da taxa de câmbio;
- Ainda não existe um consenso sobre a proposta sugerida.
O governo federal estuda estabelecer uma meta para as reservas cambiais — ou reservas internacionais. Estas reservas funcionam como um seguro para o país em situações de turbulência, que causam impacto na relação do real ante o dólar. A informação foi revelada por uma fonte da área econômica ao Valor.
Apesar da proposta do governo em criar uma meta para as reservas cambiais — que pode causar impacto na relação do real ante o dólar, ainda não existe um consenso nos escalões técnicos do próprio Ministério da Economia.
Segundo a fonte do governo, a meta teria bandas de flutuação. Este limite obrigaria o Banco Central a “explicitar” a sua política cambial — assim como acontece atualmente com a condução das metas de inflação e da taxa de juros.
De qualquer forma, a fonte nega que a sugestão signifique uma meta para o próprio câmbio em si. A pessoa argumenta que a autoridade monetária administra as reservas cambiais, “não dono delas”.
O interlocutor comenta que, caso o país acumule muitas reservas cambiais, isso significa que o câmbio está muito baixo. Neste caso, o Banco Central entraria vendendo as reservas para que o real valorize . Assim o câmbio seria colocado dentro da banda. No caso de valorização excessiva do real, o cenário oposto aconteceria.
A pessoa informou que as alterações são “coisa para sem bem estudada antes de proposta”. Isso seria “para depois das eleições”.
No momento, a equipe econômica vem fazendo um estudo para tentar entender “qual o nível ótimo de reservas e qual a largura das bandas para implicar menor volatilidade [cambial] possível”. Até o momento, não existe uma conclusão.
O que são as reservas cambiais
As reservas cambiais são os ativos do Brasil em moeda estrangeira, como o dólar. Elas funcionam como um tipo de seguro para o país cumprir suas obrigações no exterior e choques de natureza externa — como crises cambiais e interrupções no fluxo de capital para o país.
O Brasil utiliza o regime de câmbio flutuante. Neste sistema, a taxa de câmbio é definida exclusivamente pela interação entre oferta e demanda.
No país, essa espécie de “colchão de segurança” auxilia a manter a funcionalidade do mercado de câmbio de modo a reduzir as oscilações bruscas do real em relação ao dólar — oferecendo mais segurança e previsibilidade para os agentes do mercado.
Essas reservas são, especialmente, compostas por títulos, depósitos em moedas (dólar, euro, dólar canadense, dólar australiano, libra esterlina e iene), direitos especiais de saque junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), depósitos no Banco e Compensações Internacionais (BIS), ouro, entre outros ativos.
A autoridade monetária explica que a alocação das reservas monetárias é realizada conforme o tripé segurança, liquidez e rentabilidade, nessa ordem. A política de investimentos é estabelecida pela Diretoria Colegiada do BC.
Como a criação de metas para reservas cambiais pode afetar o dólar
Segundo integrantes da equipe econômica que participaram da discussão, ouvidos pelo Globo, o objetivo da meta para reservas cambiais seria de dar “previsibilidade” para o câmbio.
Para que o câmbio fique em equilíbrio e apresente previsibilidade para o mercado, as fontes alegam que seria preciso que o Banco Central persiga uma meta de reservas cambiais.
Os interlocutores argumentam que a mudança visa fortalecer o tripé macroeconômico — composto pelo regime de metas de inflação, metas fiscais e câmbio flutuante.
Apesar disso, ex-integrantes da autoridade monetária consultados pelo Globo alegam que não existe experiência parecida no mundo. Estas pessoas, por sua vez, temem que, na prática, o objetivo seja exercer influência sobre a cotação do dólar.
Como funciona a política cambial
A política cambial se baseia na administração das operações cambiais. Para evitar variações bastante bruscas na taxa de câmbio (preço do real em relação a moedas estrangeiras), o governo realiza intervenções — decidindo se o real precisa ficar valorizado ou desvalorizado.
Quando existe maior oferta de dólares na economia local, o preço do dólar cai — e o preço do real sobe. Já quando há falta de dólares circulando na economia local, a moeda estrangeira fica mais valorizada. Consequentemente, o real desvaloriza em relação ao dólar.
Confira a cotação do dólar em relação ao real: