Inflação fecha o ano de 2022 em 5,79% e isto trouxe uma má notícia

Pontos-chave
  • Inflação estourou novamente a meta estabelecida
  • Preços altos dos alimentos prejudica em cheio as famílias mais pobres

Se tem algo que os brasileiros sentiram no ano passado foram os reflexos da inflação alta, como a perda de poder de compra e o encarecimento do crédito. Diante das altas taxas de juros que tinham o objetivo de segurar a inflação e da desoneração dos combustíveis, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) fechou 2022 em 5,79%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

INFLAÇÃO em alta confunde os consumidores nas prateleiras dos supermercados. Entenda
Inflação fecha o ano de 2022 em 5,79% e isto trouxe uma má notícia(Imagem: FDR)

O índice revelou uma desaceleração significativa em comparação com 2021, quando o patamar ficou em 10,06%, mas de novo representou um estouro na meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional.

A meta determinada para o ano era de 3,5%, com uma margem de tolerância de até 5%. Diante deste novo estouro, Roberto Campos Neto, presidente do BC, deve divulgar ainda esta semana uma carta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando a razão da inflação ter ultrapassado o teto. 

Isto deve ser feito pois existe uma regra que obriga o Banco Central a fornecer explicações sempre que a meta não é cumprida. A primeira carta foi redigida por  Armínio Fraga, em 2001. A carta também foi entregue nos anos de  2002, 2003, 2015 e 2018 e em 2021. 

A pressão da inflação no ano passado ficou marcada por duas fases diferentes. No primeiro semestre, chegou a acumular 12% por conta da disparada do preço do petróleo internacionalmente e  consequentemente dos combustíveis no Brasil. Os combustíveis integram  o grupo dos transportes, que representa o maior peso no Orçamento das famílias e a alta desse item vem causando um efeito cascata na inflação.

No mês de julho, com a aprovação do teto do ICMS estadual sobre os combustíveis e a desoneração dos impostos federais que integraram o pacote de medidas do ex-presidente Jair Bolsonaro que estava mirando nas eleições 2022, os preços caíram e ajudou na desaceleração do índice, mas não o bastante para terminar o ano dentro da meta estabelecida. 

Porém, a alta de preços nos demais grupos ajudou no estouro da meta. O que representou o maior impacto foi o grupo Alimentação e bebidas (11,64%), (2,41 p.p.) no acumulado do ano. Logo depois, aparece o grupo Saúde e cuidados pessoais, com 11,43% de variação e 1,42 p.p. de impacto. A variação mais alta veio do grupo Vestuário (18,02%), com altas acima de 1% em 10 dos 12 meses do ano. 

Dentro do grupo de alimentos, se destacaram a cebola (130,14%), que passou pela maior alta entre os 377 subitens que integram o IPCA, e o leite longa vida (26,18%), que ajudou  com o maior impacto (0,17 p.p.) entre os alimentos consumidos nos lares brasileiros.

Esta variação nos preços está ligada aos custos de produção mais elevados, questões relacionadas ao clima e variação do preço das commodities de alimentos. É importante destacar que a inflação dos alimentos pesa mais na renda das famílias mais pobres.

Ao passo que o IPCA, que mede a variação dos preços de famílias que ganham entre 1 a 40 salários mínimos fechou em 5,79%, o INPC fechou em 5,93%. Este segundo indicador acompanha os preços para famílias de 1 a 5 salários mínimos.  

Sobre o grupo de vestuário, que passou pela variação mais alta no IPCA, a volta das atividades após o período mais crítico da pandemia, fez com que a demanda por itens deste grupo aumentasse, e os preços subiram. “Os custos de produção subiram e houve uma retomada da demanda após a flexibilização das medidas de isolamento social decorrentes da pandemia de Covid-19”, disse André Almeida, analista de preços do IBGE à Veja.

Mesmo com a desaceleração observada, a inflação segue pressionado a renda das famílias e este será um grande desafio para o atual governo comandado por Lula. 

Como uma consequência da alta dos preços está uma política monetária contracionista, que está se mostrando eficaz, no entanto tem como efeito colateral a desaceleração do crescimento.

 

Paulo AmorimPaulo Amorim
Paulo Henrique Oliveira é formado em Jornalismo pela Universidade Mogi das Cruzes e em Rádio e TV pela Universidade Bandeirante de São Paulo. Atua como redator do portal FDR, onde já cumula vasta experiência e pesquisas, produzindo matérias sobre economia, finanças e investimentos.