Bolsa de Valores brasileira deve viver algo que não via desde 1998

O ano de 2022 pode se tornar o primeiro em que o mercado de ações nacional não registra nenhuma estreia na bolsa de valores. Uma exceção seria a gestora carioca Urca, que na semana passada ia abrir seu capital na B3 ao emitir BDRs, no entanto por conta da baixa demanda, a oferta foi cancelada. 

A falta de IPOs (as ofertas públicas de ações) acontece após o grande movimento nos últimos dois anos, quando 70 empresas ingressaram na B3.

Uma vez que a oferta da Urca não se concretizou, esta se tornou a primeira vez em que a Bolsa não teve nenhuma oferta inicial desde 1998, destacou ao InvestNews, Murilo Breder, analista de investimentos da NuInvest.

“Normalmente as aberturas de capital acontecem em época de bonança no mercado. Afinal, os diretores certamente gostariam de ver as ações da sua companhia valendo o maior valor possível. Há até uma piada no mercado financeiro: IPO = It’s Probably Overpriced (está provavelmente muito caro)”, disse ele ao InvestNews.

O que provocou isto?

Na visão de especialistas, esta alteração na tendência aconteceu, especialmente, pela mudança no cenário dos juros. Diante da taxa Selic elevada, fechando este ano em 13,75% ao ano, o mercado de ações fica naturalmente menos chamativo.

“Com a virada da curva de juros – ou seja, o Brasil saindo dos antigos 2% de taxa Selic ao ano para os atuais 13,75% –, as ações tendem a ficar mais baratas, tem um processo de depreciação”, disse ao InvestNews Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed. “Ficou mais difícil de ter IPO a preços atrativos ou que chamassem atenção de novas empresas”, complementou.

Um outro motivo é o histórico, isto é, o boom de estreias entre os anos de 2020 e 2021. “Os principais IPOs vieram logo em 2020 já que, apesar de ‘apenas’ 28 aberturas de capital naquele ano, eles somaram um total de R$ 117 bilhões em captação. Em 2021, apesar dos 45 IPOs, a captação total foi bem menor – R$ 65 bilhões, já demonstrando uma certa saturação por parte do mercado“, disse Breder ao InvestNews.

“O motivo de várias empresas cancelarem ou adiarem o seu IPO vem do cenário macroeconômico bastante desafiador, marcado principalmente pela a alta de juros por diversos países para combater o aumento da inflação, o que aumenta os receios para uma possível recessão”, disse ao InvestNews  Fabrício Gonçalves, CEO da Box Asset Management.

Paulo Amorim
Paulo Henrique Oliveira é formado em Jornalismo pela Universidade Mogi das Cruzes e em Rádio e TV pela Universidade Bandeirante de São Paulo. Atua como redator do portal FDR, onde já cumula vasta experiência e pesquisas, produzindo matérias sobre economia, finanças e investimentos.
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