- O Brasil retrocedeu no mapa da fome, e alcança índices equivalentes a 1990;
- Especialistas culpam a atuação do governo pelos números;
- O governo se defende apontando programas criados para assistência social.
Foi divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), no dia 8 de junho, que 33,1 milhões de brasileiros não têm o que comer. Ou seja, vivem em situação de insegurança alimentar. Os dados sobre a fome são preocupantes.
O levantamento mostrou ainda que foram inclusas 14 milhões de pessoas na lista daqueles que estão vivenciando situação de fome. Os dados também mostram que mais da metade da população, isto é 57%, têm algum tipo de insegurança alimentar, seja de grau leve ou avançado.
Com o resultado da pesquisa foi possível perceber que o Brasil retorna ao mesmo patamar de fome do ano de 1990. Em 2021, os dados apresentados eram semelhantes a situação que o país vivia em 2004.
Ou seja, o país encontra-se em retrocesso. Para chegar a esses números, foram feitas pesquisas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios, distribuídos nos 26 estados e no Distrito Federal, entre novembro de 2021 e abril de 2022.
Perfil das pessoas que mais passam fome no país
De acordo com este levantamento, o perfil dos mais atingidos pela fome pôde ser observado. Já que a pesquisa perguntou sobre questões importantes dos entrevistados.
Foi visto, por exemplo que:
- As regiões Norte e Nordeste são as mais atingidas do país, com 71,6% e 68%, respectivamente;
- Nas regiões de área rural, pelo menos 60% dos lares vivem em insegurança alimentar;
- Chefes de família pardos e pretos são 65% dos atingidos com alguma restrição;
- 18,1% das famílias atingidas possuem crianças menores de 10 anos;
- Há fome em 23,3% dos domicílios em que o chefe da família tem baixa escolaridade.
O que explica o aumento da fome no Brasil
Ana Maria Segall, médica epidemiologista e pesquisadora da Rede PENSSAN, explica que a pandemia tem grande parcela de culpa nesses dados. A profissional ainda criticou as políticas adotadas para dar assistência aos mais pobres nessa época.
A médica disse que as medidas estão associadas a uma “gestão inconsequente” que “só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país“.
O coordenador da rede PENSSAN, Renato S. Maluf, também relaciona a perda de segurança alimentar com a atuação governamental.
“As medidas tomadas pelo governo para contenção da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante de um cenário de alta da inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda da população, com maior intensidade nos segmentos mais vulnerabilizados”, justificou.
O desemprego, que atinge 11,3 milhões de brasileiros em 2022 de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também é responsável pela diminuição na renda da população.
Mais uma vez devido a pandemia, o Serasa e pelo Opinion Box mostraram que um terço dos brasileiros perceberam redução na sua renda.
Ações do governo para melhorar a condição dos brasileiros
Nesta quarta-feira (8), durante evento na Associação Comercial do Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro defendeu as ações do governo para diminuir a fome no país.
Por exemplo, com a criação do auxílio emergencial que vigorou de 2020 a 2021.
“Os informais foram condenados a morrer de fome dentro de casa, mas eles não iam morrer de fome dentro de casa. Iriam às ruas atrás de comida, com certeza, invadiriam supermercados, saqueariam com fome, por necessidade. O que nós fizemos? Criamos o auxílio emergencial“, afirmou.
Bolsonaro também evidenciou a criação do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno (Pronampe). Este foi responsável por liberar empréstimos para as empresas.
Além destes, um outro grande destaque entre as ações do governo está a criação do Auxílio Brasil. O programa foi responsável por substituir o antigo Bolsa Família, e aumentou o valor das mensalidades.
Com o antigo sistema, as famílias inscritas recebiam em média R$ 224. Mas, com a atualização do programa, o valor passou a ser de R$ 400 por mês.
E não vai acabar em dezembro de 2022, mas tornou-se uma medida permanente que não deve alterar o valor para menos.
Ainda que a medida pudesse alavancar o nome de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022, as pesquisas não são interessantes para o presidente.
De acordo com uma pesquisa do Datafolha, 16% dos apoiadores de Bolsonaro recebem a ajuda em nome do Auxílio Brasil. Destes, a metade acredita que o valor é suficientemente bom.