O Banco do Brasil está no centro de uma polêmica envolvendo empréstimos para estados. Governadores opositores a Bolsonaro alegam dificuldades para conseguir liberação de crédito da instituição, como mostrou reportagem da Folha de São Paulo publicada no último sábado (29).
O Banco do Brasil liberou R$ 5,3 bilhões em empréstimos para estados em 2021, mas 2/3 desse valor foi concedido para estados governados por aliados do presidente Bolsonaro ou de partidos que estão na base do governo federal. Por outro lado, os governadores de Alagoas e Piauí, que são adversários políticos do presidente, relatam que o banco criou entraves para liberar crédito.
Alagoas solicitou empréstimo de R$ 770 milhões do Banco do Brasil em abril do ano passado. O estado possui nota de crédito B, o que o coloca como bom pagador, e a União entrou como fiadora do negócio, o que praticamente eliminava o risco de calote.
As negociações já estavam bem avançadas, mas em setembro o BB desistiu abruptamente da operação, sem apresentar uma justificativa. O governo de Alagoas entrou com uma ação no STF, acusando o banco de “ingerência política” e solicitando a retomada do negócio.
— Temos um espaço fiscal garantido pelo Tesouro, essa operação de crédito é importante para impulsionar os investimentos em Alagoas e fazer frente a essa crise econômica que afeta o Brasil e que aqui a gente vem superando com o maior volume de investimentos da história — afirmou a “O Globo” o governador do estado, Renan Filho (MDB).
O governador é filho de Renan Calheiros, que foi relator da CPI da Covid no Senado e é abertamente contra o presidente Bolsonaro. Além disso, Renan Filho é adversário de Arthur Lira (PP-AL), que preside a Câmara dos Deputados e é aliado do governo federal.
Piauí também teve problemas
O estado do Piauí, governado por Wellington Dias, do PT, também teve dificuldades na liberação de um empréstimo de R$ 800 milhões. O negócio já havia sido aprovado pelo Banco do Brasil em 3 de agosto, mas ficou travado após uma decisão da instituição de suspender as notas de classificação de risco dos estados.
Essa medida veio um dia depois de Ciro Nogueira (PP), que é adversário de Dias no Piauí, assumir a chefia da Casa Civil do governo Bolsonaro. O estado só conseguiu liberar o dinheiro após obter uma liminar no STF.
O Ceará, que também é comandado por um petista, Camilo Santana, também passou por problemas, embora bem menores. Conforme apurou a Folha, a liberação de um crédito de R$ 900 bilhões para o estado quase foi paralisada devido a um pedido de um funcionário do BB ao Tesouro Nacional, que avalizou a operação.
Já a Bahia, governada por Rui Costa, que também é do PT, aguarda liberação de crédito desde janeiro do ano passado. O governo do estado disse estar atento a possíveis irregularidades.
Em nota, o Banco do Brasil alegou que segue “estritamente os parâmetros técnicos” nas suas operações de crédito com estados.