Na última semana a Petrobras afirmou que destinaria uma verba de 300 milhões para custear uma parte do valor do gás para os brasileiro. O novo programa seria destinado a famílias de baixa renda que têm passado por dificuldades para comprar o gás de cozinha.
Direcionada exclusivamente para famílias em situação de vulnerabilidade social, conforme caracterizado no texto, o programa deve vigorar durante 15 meses. No entanto, detalhes como periodicidade na qual o vale gás será pago, bem como valores e critérios de seleção ainda não foram determinados.
Contudo, ao fazer uma análise da verba que costuma ser investida em tantos outros programas sociais. Nota-se que os R$ 300 milhões disponibilizados pela Petrobras não serão o bastante para realmente promover um impacto financeiro e social por meio do programa que custeia parte do valor do gás.
Chegou-se a essa conclusão ao fazer uma comparação baseada no número de beneficiários do Bolsa Família que já estão incluídos em situação de vulnerabilidade social. Com o vale gás da Petrobras para essas 14,7 milhões de famílias, o benefício terá um valor simbólico de apenas R$ 1,36 ao mês.
É importante mencionar também que os cálculos foram feitos considerando o uso de um botijão de gás por mês, cujo a média de preço está em R$ 100. Partindo da suposição que a intenção da Petrobras seja pagar uma quantia equivalente ao valor integral do botijão de gás ao mês, somente 204 famílias poderiam ser amparadas, o correspondente a 1,4% dos beneficiários do Bolsa Família.
Ainda que a iniciativa seja capaz de contemplar somente uma parcela mínima da população em situação de vulnerabilidade social, o coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), William Nozaki, acredita que a proposta do vale gás é apenas um reflexo das preocupações oriundas do pleito eleitoral que está para acontecer.
“Do ponto de vista econômico, é uma medida paliativa e insuficiente. Parece mais uma ação para evitar críticas à empresa do que, de fato, uma política econômica”, declarou.
O coordenador também critica o repasse dos R$ 300 milhões, pois alega que a Petrobras não pode simplesmente repassar a verba que partiria de uma iniciativa privada, para o Governo Federal sem prestar contas.
Ele também aponta que a estatal perdeu o vínculo de proximidade junto aos consumidores do gás de cozinha após vender a distribuidora Liquigás no ano de 2019.
William Nozaki ainda lembrou que no ano de 2020 a Petrobras cogitou implementar o mesmo programa usando a Liquigás para promover descontos aos beneficiários do Bolsa Família. Enquanto isso, o Governo Federal tem estudado a possibilidade de incluir um vale gás junto à reestruturação do novo Bolsa Família.
A alternativa mais viável até o momento é a aplicação de descontos diretamente nas refinarias. No entanto, se esta for realmente a adesão, as investidas seriam voltadas à população geral e não somente àquelas em situação de vulnerabilidade social conforme proposto.
Também haveria a incerteza de o desconto chegar aos consumidores, tendo em vista que após a saída da refinaria, o gás passa pelas distribuidoras e revendedoras, que podem optar ou não pela concessão de descontos, integral ou parcialmente.