- Pandemia refletiu fortemente na inflação;
- Alimentos foram um dos principais fatores do crescimento nos índices;
- Para dezembro a projeção é que a inflação fique maior que 1%.
O aumento da inflação nos últimos meses vem assustando os brasileiros, porém, num momento atípico como esse nos esquecemos que ela é um termômetro do comportamento da economia. Os impactos econômicos decorrentes da pandemia que agravaram fortemente uma atividade econômica que estava frágil, decifram a trajetória fora do comum de alta da variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) neste ano.
Segundo dados divulgados pelo IBGE ontem (8), a variação de preços que é medida pelo IPCA, cresceu 0,89% neste mês, no ano avançou 3,13% e atingiu 4,31% no acumulado em 12 meses, ultrapassando assim a meta de 4%.
Os dados ficaram muito acima das projeções que variaram no intervalo de 0,7% a 0,85%, para o último mês.
Vale destacar um acontecimento incomum que foi a disparada da inflação a partir de agosto. Há quatro meses, a alta nos preços não ficava maior que 1,6%, em doze meses, bem menor do que piso do intervalo do sistema de metas, que é 2,5%. Nos meses seguintes é que a disparada inédita dos preços aconteceu.
A alta ficou concentrada nos alimentos, mas acabou respingando em outros produtos o que triplicou a inflação.
Se não estivéssemos vivendo em meio a uma pandemia que abalou a economia, seria impossível entender este aumento recente. Os supermercados sofreram com a paralisação da oferta e procura que acabou causando um desarranjo na produção que provocou desequilíbrios que se referiram na inflação rápida.
Geralmente, o aumento no desemprego é uma das maiores causas da fraqueza na economia e aumento da inflação, porém ao levar em conta a situação anterior a pandemia, está acima de 20% da força de trabalho, o que determinaria uma inflação sem muita força.
Porém a chegada do auxílio emergencial de R$600 mensais, valor 50% mais alto que a renda média da população mais pobre e que beneficiou quase um terço da população, mudou o cenário habitual.
Com o auxílio, a procura por alimentos, artigos para casa e materiais de construção encontraram uma oferta que ainda não é a ideal.
Os alimentos, categoria de produtos que está sendo especialmente pressionada no conjunto do IPCA, a escassez de oferta também teve o reforço do crescimento da taxa de câmbio que fez com que o dólar subisse 30% no ano, até o momento.
Uma parte da produção de commodities que possuem grande presença direta ou indiretamente no dia a dia das famílias como por exemplo o arroz, milho, soja, carnes, acabou indo para a exportação, sem que o governo promovesse um reforço dos estoques reguladores.
Com isso, a inflação de alimentos no domicílio, considerando o acumulado de 12 meses encerrados em novembro, já cresceu 21%.
Falando sobre outros itens que dependem de insumos como o aço, metais, plásticos, borrachas, vidro, papelão entre muitos outros, a escassez, resultante mais uma vez das incertezas a respeito da velocidade de recuperação da atividade, que ajudaram a deixar as empresas na retranca, tem promovido queima de estoques, diminuição no ritmo de produção e atraso nas entregas. Aqui neste caos, podemos observar uma certa inflação na oferta.
Para este mês, as projeções são de uma inflação mensal maior que 1% que refletirá o aumento das contas de energia após a Aneel ter adotado a bandeira vermelha, patamar 2.
Em dezembro do ano passado foi a última vez que a inflação mensal ultrapassou essa marca, quando marcou alta de 1,15%.
Considerando essa base de comparação, o IPCA acelerado que está sendo previsto para este mês não deverá produzir um crescimento muito mais forte na inflação de 2020.
Deve ficar acima do centro da meta, girando em torno de 4,5%, mas não ultrapassando o teto do intervalo em que, no sistema de metas, a variação do IPCA pode se acomodar.