PONTOS CHAVES
- Índice de desemprego é o maior desde 2012
- Mesmo com os índices negativos é preciso cautela na reabertura do comércio
- Situação do mercado de trabalho não deve ser normalizada tão cedo
A pandemia do coronavírus causou um enorme tombo no mercado de trabalho em abril. Esta queda foi responsável pelo registro do maior índice recente de desemprego. O levantamento feito pelo economista Marcos Hecksher do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), revelou que pela primeira vez desde que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua ( Pnad Contínua) do IBGE começou a ser realizada em 2012, cerca da metade da população em idade de trabalhar não possuí ocupação.
Segundo Marcos, pela primeira vez, menos da metade da população que está em idade de trabalhar está atualmente ocupada: 48,8% na segunda quinzena de março e 48,5% no mês de abril”
A paralisação da atividade econômica devido a pandemia do coronavírus, alterou a forma de se acompanhar o mercado de trabalho. A taxa de desemprego que é uma das mais importantes em situações normais, não está conseguindo refletir com precisão o impacto no mercado de trabalho. A taxa que registrava 11,2% no trimestre que acabou em janeiro, e pulou para 12,5 em abril.
Dois fatores contribuem para a dificuldade de refletir a realidade em dados. Um deles diz respeito as pessoas que perderam o emprego e ainda não voltaram a procurar devido a pandemia, fazendo com que não sejam considerados desempregados.
Outro fator é que o IBGE calcula a taxa levando em conta informações trimestrais agregadas, neste caso, do período de fevereiro a abril. Desta forma, a conta considera um mês e meio antes da pandemia começar. Hecksher disse que dessa forma, os dados revelados não isolam os efeitos causados pela quarentena, que começou em meados de março.
Quarentena aumenta desemprego
Várias empresas em meio a pandemia, deixaram de comunicar suas demissões através do e-social para o governo, dificultando ainda mais o índice de desemprego.
Marcos utilizou-se do chamado nível de ocupação: a parcela da população que está em idade de trabalhar (de 14 anos para cima) que está introduzida de alguma forma no mercado. E esse índice caiu de 54,3% em fevereiro para 48,5% no mês de abril, período marcado pelo maior índice de isolamento social das pessoas que puderam permanecer em casa. Isto significa que 51,5% da população em idade ativa estava sem trabalho.
Porém mesmo com os índices Marcos Hecksher afirma que “Isso não significa que a abertura deva ser apressada, pelo contrário. A Nova Zelândia é um sucesso de mitigação de mortes e perdas econômicas porque promoveu um isolamento muito mais rigoroso e controlado até o momento certo. As autoridades podem orientar bem ou mal, mas é a população que decide o grau de isolamento e seus resultados sanitários e econômicos. O Brasil tem perdido mais vidas a cada semana do que a Índia perdeu desde o início da pandemia. Quem puder, deve permanecer em casa”.
Como forma de avaliar o tamanho do impacto causado pela pandemia, ele criou um método para desagregar os dados de cada mês partindo das informações trimestrais do IBGE. Ele trabalhou com um número de entrevistados reduzido, que atinge a 75 mil pessoas por mês. Com os dados da amostra, é possível identificar especificamente o movimento do mercado a partir do início do isolamento social das pessoas que podem ficar em casa.
Entre os meses de fevereiro e abril, cerca de 8,9 milhões de pessoas ficaram sem emprego e atingiu fortemente os empregos formais. Uma média de 2,9 milhões de empregos com carteira foram cortados segundo dados do Pnad.
É o que aconteceu com Jonathan Rodrigues morador da Rocinha no Rio de Janeiro que trabalhava a dois anos em uma loja de alfaiataria, e que concedeu entrevista ao jornal O Globo.
Ele e outros funcionários entraram em férias coletivas entre 20 de março e 20 de abril. Após esse período, acabou sendo demitido. Ele recebia cerca de até R$ 1.300 na loja e deu entrada no seguro-desemprego, para receber R$1.180. Ele acredita que em breve conseguirá se realocar no mercado ainda este ano:
“A minha área é muito volátil. Começa a aquecer mais para o fim do ano. Pode demorar um pouco, porque a gente não sabe como vai ficar a economia com o coronavírus, mas eu espero que o comércio se reaqueça e as empresas voltem a contratar”, disse Jonathan.
Situação vai demorar para voltar a normalidade
Sergio Vale economista-chefe da MB Associados, acredita que as empresas vão demorar para voltar a realizar contratações. O mercado vai passar uma mudança estrutural que será difícil de reverter, deixando a retomada da economia ainda mais devagar.
“Já vinhamos de uma retomada lenta historicamente. Vamos discutir os efeitos por bastante tempo, que serão cada vez mais permanentes”, ressaltou Sérgio.