O posicionamento com relação aos benefícios versus malefícios da atual quarentenara causada pelo COVID-19 tem dividido opiniões nos últimos dias. Mas como uma análise econômica pode contribuir para esse debate?
A maior parte daqueles que defendem o fim do isolamento, fazem isso com a intenção de proteger a nossa economia. Enquanto isso, outros apontam como prioridade diminuir o número de mortes com a COVID-19.
O problema com essa dualidade de opiniões é que talvez as duas não se excluam, ou seja, o problema econômico em si não é fruto apenas da quarentena adotada no Brasil.
Segunda Grande Recessão
Como já havia mencionado em um artigo anterior, existem diversas similaridades da crise atual com a Grande Recessão. Diversos fatores que combinados com a epidemia do coronavírus, iniciaram um processo de recessão muito maior do que era imaginado.
Os principais fatores foram:
- Aumento de escala na produção industrial;
- Queda nas taxas de juros;
- Crescimento do número de investidores na Bolsa;
- Choque de demanda.
Dos 4 fatores que se repetiram em 1929 e 2019-2020, apenas o último poderia ser relacionado ao período de quarentena.
Mesmo estando relacionada à uma queda na demanda, é certo que os padrões de consumo de todos os países seriam alterados em meio à pandemia do novo coronavírus, com ou sem quarentena.
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Se todos estivessem estudando, trabalhando e produzindo, ainda veríamos alguma queda na demanda por produtos em todo o mundo.
Efeitos positivos da quarentena
Além dos benefícios mais evidentes da quarentena, como diminuir a velocidade de transmissão, proteger a população de risco e principalmente ganhar tempo para a construção de mais leitos hospitalares, decidir pelo isolamento mais cedo também pode trazer benefícios econômicos para o país.
Mesmo os países que optaram por não adotar medidas de isolamento no início da epidemia, como a Inglaterra, acabaram tendo que voltar atrás na decisão.
Por outro lado, países que adotaram a quarentena mais cedo, conseguiram diminuir a duração do isolamento e apresentam uma recuperação mais rápida na economia.
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Assim, a adoção da quarentena logo no início da epidemia brasileira, pode significar uma vantagem econômica no final do surto.
Conseguindo se recuperar mais rápido, os países que começaram mais cedo a quarentena encontrarão um cenário muito mais favorável para a exportação.
Essas poucas semanas de diferença podem ser suficientes para aproveitar um possível aumento na procura por produtos mais básicos, como commodities, que hoje são responsáveis pela maior parte da nossa exportação.
Custos da quarentena para a economia
É claro que a quarentena traz consigo efeitos negativos para a atividade econômica, mas esse cenário é muito pior para a população mais pobre.
A quarentena em si é antes de tudo um problema de renda, principalmente para os mais vulneráveis. O primeiro impacto do isolamento é a interrupção na renda de parte da população.
Em especial para os trabalhadores informais, grupo que mais cresce entre os trabalhadores brasileiros segundo IBGE, ficar em quarentena também significa ficar sem renda.
É justamente para essa população que as medidas de auxílio financeiro devem ser mais urgentes e diretas. Medidas como o projeto em votação nesta semana.
O centro da questão é que por meio de políticas públicas podemos minimizar um problema de renda, enquanto seria muito mais custoso incentivar a demanda em meio a uma grave crise global.
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Embora medidas de quarentena tenham pró e contras extremamente relevantes, os governos têm entendido este é o melhor caminho para se enfrentar a atual crise.
Isso se aplica tanto à esfera econômica, quanto à humanitária. O sucesso dessa decisão vai depender principalmente da efetividade das políticas de auxílio aos vulneráveis e da rapidez com que veremos os efeitos da quarentena nos números de casos do COVID-19 no Brasil.