- Reajustes salariais são barrados diante da crise do covid-19;
- Empregadores estão realizando novos acordos com seus funcionários;
- Previsão para 2021 é negativa e terá impacto com o novo piso nacional.
Reajustes salariais estão cada vez menores na pandemia. Se você deseja aumentar o seu salário, mas está encontrando formas de negociar com seu chefe, fique atento. Pesquisas mostram que a aceitação de correções de valores está mais difícil por parte dos empresários. De acordo com dados do Diesse, as alterações com o maior índice são aquelas onde há uma diminuição no pagamento.
A crise do novo coronavírus permanece gerando efeitos negativos em todo o mercado de trabalho. Para os brasileiros menos favorecidos, o momento é de cautela e tentativas de renegociações visando um aumento de salário.
Somente entre janeiro e outubro deste ano, foram contabilizados novos 20.812 acordos, sendo que só 7.572 trataram de correções financeiras.
Dessa quantia total, cerca de 2.084 tiveram um reajuste fixado abaixo da inflação. Ainda dentro deste grupo, 676 concordaram que não seriam autorizados aumentos.
Em comparação com o ano passado, foram registrados apenas 39 acordos com esses mesmos termos.
Índice de ganhos e distribuição por setores
No entanto, foram contabilizados também cerca de 2.382 acordos onde houve um ganho real.
Nesse grupo, as categorias mais beneficiadas foram as do ramo de informática. Já para professores da rede privada, por exemplo, não tiveram aumentos.
No grupo dos mais afetados negativamente estão os comerciantes e demais profissionais de serviço, que tiveram as atividades paralisadas por meses.
Somente entre março e julho, parte significativa das vendas presenciais precisaram ser paralisadas diante do fechamento de lojas para seguir as ações de isolamento.
Segundo os dados do Dieese, cerca de 48,85 dos 22.910 acordos fechados em 2019 tinha cláusula de reajuste salarial e, neste ano, o percentual baixou para 36,4%. Já neste ano a maioria teve efeitos reversos, como a redução de jornada e diminuição do salário.
Luís Ribeiro da Costa, pesquisador do Dieese, explica que as projeções para o próximo ano também não são positivas. Para ele o mercado ainda estará vivenciando os impactos da pandemia e a previsão real de uma recuperação só poderá ser colocada diante da identificação da vacina contra o covid-19.
Desemprego em destaque
Luís pontua ainda que uma parte significativa dos trabalhadores ainda precisam lidar com as possibilidades de desemprego e fala que as correções do salário mínimo, sem aumento real, deverão agravar a situação.
— Quem tem piso igual ao salário mínimo receberá automaticamente o reajuste do piso nacional definido pelo governo federal.
Já para o economista José Márcio Camargo, o desemprego será o principal responsável pela crise em todo o território nacional.
— Dado o tamanho da taxa de desemprego, é pouco razoável que os trabalhadores consigam aumentar seus salários em termos reais. Já é um ganho conseguir manter os reajustes pela inflação passada.
Avaliação por estado
Segundo os levantamentos do Dieese, até o momento a região com as menores quedas de reajuste salarial foi o Rio de Janeiro e Alagoas. Na sequência identificou estados como o Rio Grande do Norte, Sergipe e Paraíba.
Apenas Roraima mostrou uma elevação positiva, o que significa que acréscimos foram feitos para os trabalhadores.
Presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, explica que no Rio de Janeiro e em São Paulo o cenário é complicado, pois as negociações têm sido adiadas a partir das medidas de flexibilização.
Com um cenário de abre e fecha, o especialista acredita que o reajuste é algo visto como inseguro para os patrões que estão tentando priorizar o funcionamento de seus negócios.
— Os lojistas estão reclamando, dizendo que foram muito prejudicados, apesar das vendas pela internet.
Previsão negativa em 2021
Por fim, no que diz respeito as projeções econômicas para 2021, elas permanecem assustadoras. O governo federal informou um reajuste de R$ 22 no salário mínimo, o que significa não haver aumento real a se considerar a inflação.
De acordo com estudos do Dieese a correção de R$ 1.045 para R$ 1.067 significa um pagamento cinco vezes menor que o necessário para o brasileiro sustentar uma família de até quatro pessoas