Taxação dos super-ricos: Afinal, quem vai pagar a mais para os pobres pagarem a menos?

SALESóPOLIS, SP — A nova legislação do Imposto de Renda, que entra em vigor em janeiro de 2026, estabelece um princípio de justiça fiscal ao expandir a isenção para quem ganha até R$ 5.000,00 e, simultaneamente, criar mecanismos para que a alta renda contribua mais.

super ricos
Taxação dos super-ricos: Afinal, quem vai pagar a mais para os pobres pagarem a menos?
(Foto: I.A/Sora)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi enfático sobre a necessidade dessa mudança estrutural, chamando a legislação de um “passo decisivo contra a injustiça tributária” do país. A seguir, detalhamos quem será afetado por essa nova taxação.

Os Alvos da Nova Taxação: O Círculo da Alta Renda

O foco da nova tributação está nos indivíduos que possuem grandes rendimentos e patrimônio, cuja estrutura de ganhos atualmente permite uma baixa alíquota efetiva de imposto.

Os mecanismos que farão esses contribuintes pagarem “a mais” são principalmente dois:

1. Criação do Imposto de Renda Mínimo (IRPFM)

Este imposto visa garantir que indivíduos com rendimentos anuais muito elevados paguem, no mínimo, uma alíquota básica de imposto sobre a totalidade de seus ganhos.

  • Quem paga: Contribuintes com renda anual total acima de R$ 600 mil (média de R$ 50 mil mensais).
  • O que é taxado: A base de cálculo do IRPFM inclui quase todos os tipos de ganhos, eliminando as isenções usadas pela alta renda, como lucros e dividendos.
  • Alíquotas: A cobrança será progressiva, iniciando em um patamar baixo e atingindo 10% sobre o valor que exceder R$ 1,2 milhão de renda anual.

2. Tributação de Lucros e Dividendos

Historicamente, a distribuição de lucros e dividendos de empresas para seus sócios e acionistas era totalmente isenta de Imposto de Renda no Brasil.

Essa isenção era o principal ponto de desequilíbrio tributário, pois empresários e grandes investidores recebiam a maior parte de seus rendimentos via dividendos, pagando zero imposto, enquanto um trabalhador assalariado era taxado já na fonte.

A nova lei altera essa regra:

  • Isenção mantida até um limite: A isenção é mantida para distribuições de até R$ 50 mil por mês (por empresa).
  • Taxação sobre o excedente: Valores de lucros e dividendos distribuídos que excederem R$ 50 mil mensais serão taxados em 10% na fonte.

Fala do Presidente Lula:

“Essa reforma do Imposto de Renda acaba com o ‘privilégio vergonhoso’ que permitia aos super-ricos não pagar imposto sobre lucros e dividendos, transferindo o ônus para o trabalhador.”


O Efeito de Redistribuição de Renda

A combinação dessas medidas busca inverter a lógica tributária atual, onde a classe média (via impostos sobre consumo e IRPF) banca a maior parte da arrecadação, enquanto a alta renda consegue reduzir sua carga tributária com brechas legais (como a isenção de dividendos).

Com a nova lei, o dinheiro arrecadado com o IRPFM e a tributação de dividendos financia a desoneração da faixa mais baixa.

Faixa de Renda Situação em 2025 Situação em 2026
Até R$ 5.000/mês Paga IRRF (até R$ 144,81/mês) Isento de IRRF
Acima de R$ 600 mil/ano Isento de IR sobre Lucros/Dividendos Paga Imposto de Renda Mínimo e 10% sobre Lucros/Dividendos excedentes

Essa estratégia de taxar mais a renda de capital e menos a renda do trabalho é a essência do que o governo chama de justiça fiscal, transferindo o foco da tributação para o topo da pirâmide social.

Lila CunhaLila Cunha
Formada em jornalismo pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) desde 2018. Já atuou em jornal impresso. Trabalha com apuração de hard news desde 2019, cobrindo o universo econômico em escala nacional. Especialista na produção de matérias sobre direitos e benefícios sociais. Suas redes sociais são: @liilacunhaa, e-mail: lilacunha.fdr@gmail.com