Millennials e inteligência artificial nas finanças: o que o Brasil pode aprender

A geração dos millennials está transformando a relação com o dinheiro, mas de formas bem diferentes conforme o país.

No Reino Unido, a inteligência artificial se tornou aliada na hora de investir e planejar o futuro.

No Brasil, o mesmo grupo enfrenta dívidas, desemprego e falta de educação financeira. Ao mesmo tempo, dá os primeiros passos no uso da IA para melhorar a vida financeira.

Millennials britânicos adotam a IA para decisões financeiras

Um estudo recente revelou que 67% dos jovens britânicos entre 25 e 34 anos já usam ferramentas de IA, como o ChatGPT, para pedir conselhos financeiros.

Entre 21 e 24 anos, o número chega a 53%, enquanto apenas 10% dos maiores de 55 anos recorrem a esse tipo de tecnologia.

Além disso, 22% dos jovens afirmaram buscar orientação financeira diretamente em redes sociais como o TikTok. Ultrapassando assim, até bancos tradicionais (15%) e consultores (7%).

O dado mostra uma tendência de autonomia e confiança digital:

  • 46% dizem se sentir mais seguros sobre suas finanças em 2025 do que no ano anterior.

Esses resultados refletem uma geração que não teme usar tecnologia para entender e investir o próprio dinheiro. Isso ainda está longe de se tornar um hábito entre os jovens brasileiros.

Brasil vive o oposto: endividamento e desemprego

Enquanto britânicos usam IA para multiplicar renda, muitos brasileiros da mesma faixa etária lutam para sair do vermelho.

  • De acordo com o IBGE, o desemprego entre jovens de 18 a 24 anos atingiu 14,9% em 2025, e entre 14 e 17 anos, o índice chega a 26,4%.

Além disso, 10,9 milhões de brasileiros de 15 a 29 anos — cerca de 22,3% dessa faixa — não estudam nem trabalham. Os números revelam um forte descompasso entre juventude e mercado.

O quadro financeiro também preocupa: segundo o SPC Brasil, 46% dos jovens de 25 a 29 anos estão inadimplentes.

Esse número cresceu de 25% em 2018 para 37% em 2023, e hoje os menores de 35 anos já representam 67% dos devedores do país.

Mesmo com amplo acesso a bancos digitais e aplicativos de controle financeiro, 47% da Geração Z admite não anotar nem acompanhar os gastos mensais (CNDL/SPC).

MIllennials se relacionando com finanças em um ambiente de realidade aumentada
Millennials e inteligência artificial nas finanças ─ Imagem: Geração/FDR

Essa combinação de desemprego e falta de planejamento cria um ciclo perigoso. Desse modo, o jovem brasileiro usa a tecnologia não para investir, mas para renegociar dívidas e buscar renda imediata.

A tecnologia pode ser ponte, não barreira para millennials

O Brasil, paradoxalmente, é líder em inovação financeira na América Latina, com mais de 500 fintechs e bancos digitais populares como Nubank, Inter e C6 Bank.

Essas instituições já utilizam inteligência artificial para prever gastos, emitir alertas e sugerir metas personalizadas.

Mas o avanço tecnológico não se traduz, ainda, em educação financeira de base.
Dados da BNCC (2024) mostram que apenas 34% das escolas públicas brasileiras abordam o tema de forma contínua.

Sem formação sólida, a IA acaba sendo vista mais como uma curiosidade do que uma ferramenta de autonomia.

Por outro lado, programas recentes de alfabetização digital e financeira vêm crescendo. Sobretudo, com o foco em estudantes do ensino médio e jovens adultos, o que pode ajudar a reverter o cenário a longo prazo.

Caminhos para aproximar Brasil e Reino Unido

Para reduzir a distância entre o uso consciente da IA no Reino Unido e o cenário de vulnerabilidade no Brasil, especialistas apontam alguns caminhos:

  • Inserir educação financeira e digital desde o ensino médio;
  • Popularizar assistentes de IA confiáveis, integrados a apps bancários;
  • Oferecer conteúdos personalizados que respeitem a realidade socioeconômica dos jovens;
  • Estimular o uso da IA para metas e investimentos, não apenas para renegociar dívidas.

A convergência tecnológica pode gerar um efeito transformador. Afinal, o mesmo jovem que hoje busca um empréstimo pode, em poucos anos, usar a IA para montar uma carteira de investimentos.

O contraste entre millennials britânicos e brasileiros é o retrato de dois tempos: enquanto uns usam a IA para planejar o futuro, outros ainda tentam reorganizar o presente.

Moysés BatistaMoysés Batista
Moysés é Bacharel em Letras pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Além de ter entregue mais de 10 mil artigos em SEO nos últimos anos, tem se especializado na produção de conteúdo sobre benefícios sociais, crédito e notícias nacionais.