Em meio a um cenário que dá indícios de que a trajetória da dívida do Brasil pode entrar em uma dinâmica ainda mais preocupante e do que vem por aí no novo governo comandado por Lula, a reação considerada amena até agora dos ativos financeiros surpreendeu Fabio Kanczuk, diretor de macroeconomia da ASA Investments.
“Olhando essa situação e vendo essa coisa desesperadora, como os preços estão tão tranquilos assim?”, se perguntou Fabio que é ex-diretor de política econômica do Banco Central, em uma entrevista dada ao Valor Econômico.
Ao ser perguntado sobre o comportamento dos ativos locais ele disse que está tudo “brutalmente tranquilo”. “E é por isso que estamos coçando nossa cabeça agora. Olhando essa situação e vendo essa coisa desesperadora, como os preços estão tão tranquilos assim? Teve um nervosismo, mas acredito que foi mais porque alguns fundos mudaram de posição. Teve uma reação superforte no mercado de juros, mas até teve uma devolução do estresse”, disse ele ao Valor.
O diretor analisa que aconteceu uma deteriorização significativa da questão fiscal brasileira, que vai levar o Banco Central a reagir em algum momento de 2023, podendo fazer com que a taxa Selic se eleve para o patamar de 16%.
Na visão dele, diante de um impacto fiscal de cerca de R$ 200 bilhões, proveniente da PEC da Transição, o governo não deverá conseguir nem sustentar uma narrativa capaz de sinalizar que a evolução da dívida vai entrar em uma trajetória sustentável.
“O ambiente vai ficar pior. É câmbio acima de R$ 6, Selic indo para 16%, bolsa caindo muito, talvez indo para 80 mil pontos. Acho que vai ser necessária uma mudança nos preços”, disse Kanczuk ao Valor, para que aconteça uma mudança na postura do governo. Neste caminho, ele fala ainda de um câmbio em R$ 6 por dólar e a bolsa em 80 mil pontos.
“Se antes esperávamos uma redução mais cedo nos juros, agora acreditamos que o BC vai ter que subir juros em meados do ano que vem. A direção é de alta de juros. Sai dos 13,75% de agora e pode parar em 16%, algo dessa ordem”, explicou ele ao Valor.
“A gente acha que é para vender, não para comprar. O ambiente vai ficar pior. É câmbio acima de R$ 6; Selic indo para 16%; bolsa caindo muito, talvez indo para 80 mil pontos… É um mundo bem diferente”, explicou na entrevista.