O valor da moeda americana sempre foi uma métrica do risco internacional e também do mercado brasileiro, mas a alta interfere no nosso poder de compra. O impacto na variação do dólar é sempre lembrado por aqueles que planejam viagens internacionais, mas seus efeitos são muito mais abrangentes na nossa economia.
Como o dólar é usado no comércio internacional, com a valorização, precisamos de mais reais para comprar os mesmo produtos de outros países. Por isso os produtos importados, mesmo que não sejam dos EUA, ficam mais caros para o consumidor final no Brasil.
Muitos produtos fabricados no Brasil ainda dependem de matérias primas importadas. Isso pode acontecer desde o pão da padaria, que importa a farinha de países mais frios, até computadores brasileiros, que importam componentes tecnológicos.
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Até mesmo os produtos completamente feitos no Brasil são impactados pelo dólar. O café, por exemplo, por ser uma commodity é precificado em dólares, que interfere no preço do produto nas prateleiras do Brasil.
Na teoria, a variação cambial interfere no nosso poder de compra, mas na prática isso não tem acontecido. A cotação do dólar comercial vem subindo desde o começo de 2018, porém o IPCA registrado nesses últimos dois anos ficou muito abaixo do esperado.
A inflação parece continuar controlada mesmo com o dólar atingindo máximas nominais históricas. Alguns fatores econômicos podem explicar isso.
IPCA representa a inflação?
Embora o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) seja o indicador oficial da inflação, ele se baseia em uma cesta de produtos e na sua variação de preço.
Isso quer dizer que dependendo da sua região e dos produtos que você e sua família consomem, os impactos da inflação e do dólar poder ser maiores ou menores.
Quem depende do carro para trabalhar está mais vulnerável ao preço do combustível, quem revende produtos importados fica exposto ao dólar e assim por diante.
No fim das contas, o aumento no preços dos produtos pode estar chegando no seu bolso com mais força do que nas taxas oficiais do IBGE.
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Outro fator que conteve o aumento nos preços foi a desaceleração produtiva, com as vendas mais baixas, as empresas não puderam repassar a valorização cambial para o comprador e tiveram que adotar outras medidas para manter os preços competitivos.
O Governo também flexibilizou algumas regras de contratação e demissão de funcionários, o que ajudou muitas empresas a não cobrarem mais caro do consumidor.
A influência do dólar na queda no preço do gasolina
Nos últimos meses o preço do petróleo sofreu inúmeras quedas no cenário internacional. O que impactou negativamente o orçamento público, mas diminuiu em até 30% o preço da gasolina nos postos pelo Brasil.
Na prática, os fretes ficaram mais baratos e compensaram a escalada do dólar nos produtos básicos.
A soma de todos esses fatores parecia se equilibrar até o começo do ano, mantendo os preços dos produtos básicos estáveis para os consumidores finais. O que não era previsto era o surto do novo coronavírus, que aumentou o receio internacional e novamente a cotação dólar.
Daqui para frente o cenário é muito mais incerto, tanto para o dólar, quanto para os impactos financeiros e sociais para a população. Historicamente, grandes epidemia levaram ao aumento dos preços e escassez de produtos, o que ressalto que ainda não aconteceu.
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A situação é mais grave para as economias europeias que já vinham de uma crise arrastada com os Bancos Europeus, o receio de novos colapsos financeiros elevou ainda mais a cotação da moeda americana.
Considerando o fechamento das fronteiras internacionais, o dólar não vai interferir nas viagens internacionais dos brasileiros tão cedo quanto gostaríamos, enquanto o impacto financeiro continua reduzido no curto prazo.