Nos últimos dias, cresceu o temor de que o Brasil possa sofrer com desabastecimento de diesel no segundo semestre. Esse risco foi mencionado por dirigentes da Petrobras e estaria ligado às sanções econômicas impostas à Rússia, devido à guerra na Ucrânia.
De acordo com a agência Reuters, antes de deixar o cargo, o último presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, teria alertado o Ministério de Minas e Energia sobre a possibilidade de faltar diesel nos postos do país.
Os dirigentes da estatal teriam ressaltado que a falta do combustível poderia ocorrer no auge da colheita de soja do segundo semestre, com consequências graves para o setor agrícola e para toda a economia brasileira.
Já na terça-feira (24), a Federação Única dos Petroleiros (FUP) teria manifestado uma preocupação semelhante.
“O Brasil corre o risco de desabastecimento de óleo diesel no início do segundo semestre deste ano, em função da prevista escassez de oferta no mercado internacional e do baixo nível dos estoques mundiais”, disse a entidade em nota.
Especialistas do setor de petróleo concordam que esses temores são reais, mas acreditam que o desabastecimento de diesel seria pontual e só ocorreria se determinados fatores se mantivessem ou se confirmassem.
A principal causa para uma possível falta do combustível são as quebras nas cadeias globais de fornecimento devido às sanções impostas à Rússia. Após o país, que é o maior exportador mundial de petróleo, invadir a Ucrânia, em fevereiro deste ano, os Estados Unidos, nações europeias e outros aliados começaram a impor sanções ao gigante eurasiático, impactando nas suas exportações de hidrocarbonetos.
O temor atual é de que a União Europeia proíba definitivamente a compra de petróleo da Rússia. Isso teria um impacto profundo nos preços e na circulação global da commoditie e dos seus derivados.
Todos os países seriam afetados, e o Brasil seria especialmente impactado devido ao grande volume de petróleo refinado que precisamos importar atualmente.
Alguns especialistas também destacam que uma mudança na política de preços da Petrobras pode diminuir a capacidade de distribuidoras privadas importarem petróleo e derivados, uma vez que elas não conseguiriam concorrer com os preços da estatal, levando à falta de diesel em alguns postos.
Bolsonaro já sinalizou que a estatal não deveria fazer novos reajustes, pelo menos até outubro, quando ocorrerão as eleições. O presidente entende que os preços dos combustíveis são uma questão crucial para sua reeleição.
Maurício Canêdo, professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV-EPGE) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), acredita que o problema pode ser evitado se a Petrobras se movimentar para arranjar novos fornecedores e suprir a demanda não atendida pelas distribuidoras privadas.
Ele também explica que uma temporada forte de furações no Oceano Atlântico pode prejudicar o fluxo de petróleo refinado para o Brasil, já que a maior parte dele vem de refinarias dos Estados Unidos.
“Temos levantado que a Petrobras já está procurando fontes alternativas de oferta na Ásia e África para driblar a diminuição da oferta nos Estados Unidos”, relatou à BBC News.