A economia do Brasil e de outros países da América Latina está sujeita a novos riscos devido à guerra na Ucrânia e à inflação que ocorre em todo o mundo. Essa é a mensagem principal de um artigo publicado no blog do FMI (Fundo Monetário Internacional), na terça-feira (26).
Os autores do artigo são Jorge Roldos, Santiago Acosta-Ormaechea e Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central do Brasil de 2016 a 2019 e nomeado diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI no ano passado.
“A Guerra da Ucrânia, inflação alta, condições financeiras mais restritas, desaceleração econômica de parceiros chave e descontentamento social podem diminuir as expectativas de crescimento”, destacam os autores no início do texto.
Como resposta aos impactos do conflito no leste europeu, os governos da América Latina e do Caribe estariam aumentando as suas taxas de juros e ampliando políticas de proteção aos mais pobres, mas uma escalada da guerra pode prejudicar esses esforços.
O artigo destaca que as economias latinas já demonstravam perder força antes mesmo do início da guerra, após uma recuperação considerável no ano passado. O Brasil, por exemplo, após crescimento do PIB de 4,6% em 2021, deve agora crescer apenas 0,8%, de acordo com a estimativa mais recente do FMI. Chile e Peru, que alcançaram taxas de crescimento de dois dígitos no ano passado, devem crescer 1,5% e 3% em 2022, respectivamente.
Outro fator que pode ameaçar nossa economia é a elevação dos juros nos Estados Unidos, para conter a inflação por lá, a maior dos últimos 40 anos. Com taxas mais altas, investidores podem abandoar economias mais frágeis, como a brasileira, atraídos para os títulos do tesouro americano.
A possibilidade de uma desaceleração do crescimento na China, devido a surtos de Covid, especialmente, também pode impactar o desempenho econômico da região, assinalam os autores.
“Consolidação inclusiva”
O artigo aponta que a pobreza e a desigualdade permanecem como grandes preocupações para a região. A inflação, sobretudo de alimentos e de energia, e as novas turbulências econômicas que podem surgir potencializariam esses problemas.
Nesse cenário, os autores argumentam que é necessário ampliar as redes de proteção social, com políticas temporárias e focalizadas de assistência aos mais vulneráveis, a exemplo do Auxílio Brasil.
Eles também defendem que a América Latina necessita de uma “consolidação inclusiva”, construída através da preservação de gastos em programas sociais, saúde, educação e investimento público, ao mesmo tempo em que se implementam reformas tributárias para manter a estabilidade fiscal.