Bolsa Família vira pauta central no governo federal. Nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro vem concedendo uma série de entrevistas falando sobre o BF. De acordo com ele, o programa passará por uma intensa reformulação garantindo mais recursos para a população em situação de vulnerabilidade social.
Enquanto concede uma nova rodada do auxílio emergencial, Bolsonaro vem se mostrando preocupado com o Bolsa Família. Em suas últimas coletivas, o gestor afirmou diversas vezes que está trabalhando para reformular os benefícios concedidos pelo programa, alegando que irá aumentar o valor de base do benefício.
Outra pauta em destaque tem sido o esvaziamento do papel de estados e municípios na gestão do projeto. De acordo com Bolsonaro, agora a administração do Bolsa Família será integralmente de responsabilidade do governo federal, modificando até as formas de cadastramento que serão digitalizadas.
“Brevemente a inclusão no Bolsa Família não será mais procurando prefeituras pelo Brasil, será feito através de um aplicativo. Vamos libertar as pessoas mais humildes do jogo de quem quer que seja,” afirmou.
Corrida eleitoral amplifica seu interesse
Diante de tais novidades, muitos especialistas passaram a analisar o discurso do presidente para entender suas motivações em reformular o Bolsa Família. Tendo em vista que em 2022 ele enfrentará uma nova eleição, estreitar seus laços políticos com a população de baixa renda se torna essencial para uma recandidatura.
É válido ressaltar que em 2018 parte significativa dos votos contra Bolsonaro foram justamente dos segurados do Bolsa Família, uma vez em que o programa se tornou popularmente conhecido no governo do ex presidente Lula.
Havendo possibilidade de mais uma candidatura de Lula pelo PT, conhecido justamente por sua atenção prioritária as pautas sociais, Bolsonaro estaria buscando ampliar seu eleitorado e assim se manter no poder.
“A lógica é entrar em 2022 em condições competitivas. O governo não tem um bom discurso em relação à economia durante a pandemia, nem sobre combate à corrupção, nem sobre o enfrentamento à pandemia em si. Resta a ele elevar os gastos com programas sociais para tentar obter índices de popularidade que o levem para o segundo turno”, explicou o cientista político Carlos Melo.
Mayra Goulart, professora de Ciência Política na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e na UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), reforça tal pensamento:
“Quando mobilizados dessa maneira, muito ligados à figura do presidente, os programas sociais podem ser interpretados como mais uma forma de criar nichos eleitorais. A estratégia que mais deu resultado na conformação do que a gente entende por bolsonarismo é bem mais nichada”, declarou.