ESCÂNDALO dentro do INSS afeta também os pagamentos do Bolsa Família

ARAGUARI, MG — O escândalo dentro do INSS ganhou novos contornos com a descoberta pela Polícia Federal de que presidentes de associações envolvidas nas fraudes bilionárias eram, na verdade, beneficiários de programas sociais do governo. Essa revelação impacta diretamente as investigações.

ESCÂNDALO dentro do INSS afeta também os pagamentos do Bolsa Família. Imagem: Jeane de Oliveira/FDR

De acordo com o inquérito, os líderes dessas entidades estavam registrados no Cadastro Único (CadÚnico), além de serem beneficiários de programas como o Bolsa Família e o Auxílio Brasil, o que agrava ainda mais o esquema.

O escândalo dentro do INSS tem revelado a participação de três associações principais, segundo as investigações em andamento em Brasília. Essas entidades estavam diretamente envolvidas no esquema de fraudes bilionárias.

As associações identificadas são a AAPB (Associação dos Aposentados e Pensionistas Brasileiros), a ABSP/AAPEN (Associação Brasileira dos Servidores Públicos/Associação dos Aposentados e Pensionistas do Nacional) e a Universo (Associação dos Aposentados e Pensionistas dos Regimes Geral e Próprio da Previdência Social).

Investigação da PF sobre escândalo dentro do INSS identifica registros no Bolsa Família

Investigações apontam que cinco dirigentes de associações estavam cadastradas em programas sociais do governo, com quatro delas sendo idosas.

  • Maria Ferreira da Silva (88 anos): Presidiu a AAPB desde 2021; aposentada desde 2003; estava inscrita no CadÚnico com renda familiar per capita de R$ 1.320.

  • Maria Liduina Pereira de Oliveira (56 anos): Presidiu a AAPB desde 2022. recebeu o Bolsa Família até outubro de 2015.

  • Maria Eudenes dos Santos (65 anos): Presidiu a ABSP/AAPEN desde 2022.+; beneficiária do Bolsa Família até julho de 2021 e do Auxílio Brasil até fevereiro de 2022; estava inscrita no CadÚnico com renda familiar per capita de R$ 1.320.

  • Francisca da Silva de Souza (71 anos): Assumiu a presidência da ABSP/AAPEN em janeiro de 2024; aposentada desde 2013; recebeu o Bolsa Família até outubro de 2015.

  • Valdira Prado Santana Santos (79 anos): Presidiu a Universo desde janeiro de 2021; consta no CadÚnico com registros de sua participação em programas sociais.

“Embora não haja impedimentos para que pessoas com idade avançada assumam responsabilidades da vida civil, é importante registrar que tanto a captação de associados na abrangência demonstrada neste documento, quanto a aplicação dos recursos aqui tratados, com a eventual organização de estrutura e de serviços em tantos lugares do país exige articulação, esforço e carga de trabalho muito elevada, o que, eventualmente, não seria compatível”, diz o relatório da PF.

O escândalo dentro do INSS revela que as associações envolvidas no esquema de fraudes não tinham a infraestrutura necessária para atender aos aposentados e pensionistas. Apesar disso, alegavam atuar em mais de 4.000 municípios. A Polícia Federal segue com as investigações para descobrir todos os responsáveis e avaliar os danos causados aos cofres públicos, com o objetivo de medir a extensão do prejuízo causado.

Em resposta ao escândalo dentro do INSS, a AAPB afirmou que irá colaborar plenamente com as investigações em curso. A associação destacou que seguiu todos os procedimentos legais relacionados à documentação utilizada para firmar o acordo de cooperação técnica com o INSS. A AAPB reforçou, em sua nota, que todas as ações realizadas estavam dentro da legalidade e que está comprometida em esclarecer qualquer dúvida no decorrer da apuração.

“Da mesma forma, não há impedimento para que pessoas que não tenham vínculos empregatícios anteriores desempenhem a função de dirigentes nessas associações, mas a direção das associações da envergadura das aqui tratadas, de amplitude nacional, que deveriam atender pessoas em mais de 4.000 municípios, exige muita habilidade, articulação e conhecimentos”, afirma o texto.

Uso de ‘laranjas’ intensifica organizações criminosas

O escândalo dentro do INSS revela indícios de uma organização criminosa bem estruturada, segundo as investigações da Polícia Federal. Usando testas de ferro, os responsáveis buscavam ocultar os verdadeiros operadores financeiros e mascarar a origem dos recursos.

A estratégia adotada assemelha-se a esquemas de lavagem de dinheiro já investigados em outros setores públicos. A principal ferramenta utilizada para a fraude foi o acordo de cooperação técnica com o INSS, que permitia descontos indevidos na folha de pagamento, disfarçados como serviços associativos.

O escândalo dentro do INSS pode ter gerado um prejuízo de até R$ 6,3 bilhões, de acordo com a Controladoria-Geral da União (CGU). O impacto da fraude afetou diretamente os beneficiários da Previdência Social.

Em resposta à gravidade do caso, o presidente do INSS foi exonerado e os convênios com entidades privadas foram suspensos. Além disso, já há assinaturas suficientes para iniciar uma CPI na Câmara dos Deputados, visando investigar a fundo o esquema.

 

Laura AlvarengaLaura Alvarenga
Laura Alvarenga é graduada em Jornalismo pelo Centro Universitário do Triângulo em Uberlândia - MG. Iniciou a carreira na área de assessoria de comunicação, passou alguns anos trabalhando em pequenos jornais impressos locais e agora se empenha na carreira do jornalismo online através do portal FDR, onde pesquisa e produz conteúdo sobre economia, direitos sociais e finanças.