Há cerca de um mês e meio, o InfoMoney analisou o impacto do investimento em dólares ao calcular quanto um investidor teria acumulado ao aplicar R$ 1.000 na moeda americana há 20 anos. Naquela época, o dólar estava cotado a R$ 5,80, valor visto pela última vez em março de 2021, e o montante seria de R$ 1.915,31.
Com o dólar alcançando novos recordes, agora cotado a R$ 6,20, o cenário econômico continua sendo impactado por juros altos e inflação descontrolada. Diante disso, o matemático e especialista em Investimentos CEA, Guylherme Mattos, refez os cálculos, utilizando a cotação atual de R$ 6,18.
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Quem investiu em dólar há 30 anos, hoje teria R$ 7.273,86. A cotação da moeda no dia 17/12/1994 era R$ 0,84.
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Quem investiu em dólar há 20 anos, hoje teria R$ 2.247,04. A cotação da moeda no dia 17/12/2004 era R$ 2,72.
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Quem investiu em dólar há 10 anos, hoje teria R$ 2.247,04. A cotação da moeda no dia 17/12/2014 também era R$ 2,72.
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Quem investiu em dólar há 5 anos, hoje teria R$ 1.505,38. A cotação da moeda no dia 17/12/2019 era R$ 4,06.
*Observação: Os cálculos consideram IOF de 1,1%.
Por que o investimento em dólares tem aumentado tanto?
Na última terça-feira, 17 de dezembro, os agentes do mercado analisaram a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O documento destacou a piora no cenário de inflação e a materialização de “vários riscos”, tornando o ambiente econômico mais desafiador.
Com base nas projeções de uma Selic mais alta, o mercado reagiu, levando os juros dos títulos públicos a níveis recordes neste ano. Esse cenário também impacta o investimento em dólares, com o mercado ajustando suas expectativas.
As notícias de hoje refletem uma crescente crise de confiança na política fiscal do governo federal. O cenário, que já era negativo, se agravou desde o final de novembro, quando o governo anunciou um pacote de medidas que não foi bem recebido.
O pacote foi visto como insuficiente para controlar a dívida a longo prazo e vulnerável, pois poderia ser alterado ou enfraquecido no Congresso. Esse ambiente de incerteza também afeta o investimento em dólares, com investidores buscando alternativas mais seguras.
Como o dólar influencia na economia mundial
O dólar americano se consolidou como a principal moeda de reserva internacional após a Segunda Guerra Mundial, especialmente com o Acordo de Bretton Woods em 1944, que vinculou o dólar ao ouro e estabeleceu-o como referência para outras moedas. Embora o padrão-ouro tenha sido abandonado em 1971, o dólar manteve sua posição dominante devido à confiança na economia dos Estados Unidos, sua liquidez e a ampla aceitação em transações internacionais.
Essa predominância do dólar significa que muitas commodities, como petróleo e ouro, são precificadas em dólares, o que implica que países que importam esses produtos precisam adquirir dólares para efetuar pagamentos. Além disso, muitos países mantêm reservas em dólares para estabilizar suas economias e facilitar o comércio internacional.
Para economias emergentes, o investimento em dólares pode ser uma faca de dois gumes. Por um lado, a valorização do dólar pode atrair investimentos estrangeiros, já que ativos denominados em dólares podem oferecer retornos mais atraentes devido à força da moeda americana.
Por outro lado, uma alta do dólar pode tornar mais cara a dívida externa denominada nessa moeda, aumentando o custo de financiamento para esses países. Além disso, a valorização do dólar pode levar a uma fuga de capitais, já que investidores buscam ativos mais seguros e rentáveis nos Estados Unidos.
Efeitos do dólar na valorização de outras moedas
A valorização do dólar tem um impacto direto na taxa de câmbio de outras moedas. Quando o dólar se fortalece, as moedas de mercados emergentes tendem a se desvalorizar em relação a ele, o que pode aumentar o custo de importação de bens e serviços, gerando pressões inflacionárias. Além disso, a desvalorização das moedas locais pode afetar negativamente a confiança dos investidores e a estabilidade econômica desses países.
Recentemente, o dólar apresentou uma leve alta em relação ao real, consolidando ganhos anteriores e mantendo-se acima de R$ 5,80. Essa valorização foi impulsionada pelas expectativas dos investidores em relação ao governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e suas políticas econômicas, como tarifas e cortes de impostos, que são vistas como potencialmente inflacionárias. No mercado global, o dólar estava fortalecido devido à vitória de Trump e ao controle republicano no Congresso.