- Financiamento de carros está cada vez mais longe da realidade dos brasileiros
- Consórcios crescem em 2022
- Juros altos e inadimplência prejudicam cenário
Comprar um carro no Brasil nunca foi tão difícil. Mesmo com os estoques se normalizando após os reflexos da pandemia, os altos preços persistem e deixam o financiamento longe da realidade de muitos brasileiros. A alta na inadimplência e nos juros levam para baixo o número de financiamentos aprovados para a compra de carros novos e usados.
Segundo dados compilados pela B3, no acumulado do ano até o mês de agosto, as vendas de veículos financiados totalizaram 3,5 milhões de unidades, entre novos e usados. Este número inclui motos, automóveis leves e pesados. Em comparação com o ano passado, houve uma queda de 10,2% neste número, o equivalente a 403 mil unidades financiadas a menos.
É importante destacar que estes dados não querem dizer que os brasileiros não desejam mais adquirir seu carro, uma vez que a quantidade de consórcios, que possuem aprovação mais fácil, cresceu 25,1% no mesmo intervalo de tempo. O problema desta modalidade é o tempo de espera, já que quando o consumidor não tem dinheiro para dar o lance vencedor ou sorte para ganhar o sorteio, tem que aguardar.
Juros elevam o valor do crédito
Existem dois fatores principais que atrapalham os brasileiros de obter crédito. O primeiro deles é a taxa de juros, que cresceu 4,7% no últimos 12 meses. Em agosto do ano passado, segundo o BC, a taxa anual para o crédito automotivo estava em 22,7% em média. Já em agosto deste ano, a taxa subiu para 27,4%.
Isto faz com que, além de ter que dar conta do valor do carro, o comprador ainda necessita de uma renda mais alta para pagar o financiamento.
O levantamento do Banco Central também revelou que a taxa de juros mais amena é a ofertado pela BMW Financeira, ficando em torno de 12,78% ao ano, e a mais cara é do SF3 CFI, que atinge os 60,46%.
Já o outro fator que vem atrapalhando as contratações é a taxa de inadimplência do financiamento de veículos. Em agosto do ano passado, a inadimplência ficou em 3,4%. Já este ano, a portagem subiu para 5,1%.
Reflexos na realidade
Estes dados informados já começam a se refletir na vida real. Segundo a Associação das Montadoras de Veículos (Anfavea), naturalmente, a cada dez solicitações de crédito automotivo, eram aprovados entre seis e sete. Ao longo dos últimos meses, cerca da metade das fichas está sendo efetivada.
Ao UOL, Cassio Pagliari, da Bright Consulting, disse que o atual cenário da economia explica esta mudança. “As taxas de juros estão altíssimas, chegando a mais de 27% ao ano. Devido a essa e outras dificuldades do mercado – como redução das remunerações das famílias – a inadimplência cresceu. Com isso, os bancos estão sendo mais rigorosos para aprovar crédito, o que explica a redução do número de clientes passando na peneira”, disse.
Especialistas dizem que existe ainda outro ponto nesta situação: o caso de consumidores que tem o crédito aprovado, mas não possuem condições financeiras exigidas pelos bancos, como entradas maiores e parcelas mais elevadas do que o esperado.
Ainda de acordo com Cássio, os financiamentos já chegaram a responder por dois terços das vendas de carros no passado. No entanto, esta quantidade não chega aos 40% atualmente.
“Definitivamente está mais difícil comprar um veículo novo, principalmente para quem precisa financiar: o preço e as taxas de juros subiram e o crédito está mais escasso. Esse é um dos motivos de estar crescendo a procura por assinatura de veículos, pois a pessoa usufrui sem contrair a dívida e não precisa de aprovação de crédito, mesmo que pague mais caro por isso”, disse ele ao UOL.
Também ao UOL, o consultor automotivo disse que “Antes, faltava carro. Hoje, faltam compradores. E não é por falta de vontade, é que o brasileiro, em média, está com menor poder aquisitivo. O custo do crédito aumentou absurdamente e o nível de inadimplência também está preocupando as instituições financeiras, o que gerou um aperto no crédito. Isso fez as pessoas descerem de categoria, do carro novo para o cada vez mais usado”.