Selic pode continuar em alta por conta do preço dos combustíveis; entenda relação

Nesta segunda-feira (6), o governo anunciou propostas para buscar reduzir o preço dos combustíveis. Essas sugestões e a inflação deste ano poderiam pressionar os juros mais, e fazer o Banco Central atrasar o ciclo de cortes da Selic em 2023. A avaliação foi feita por especialistas ouvidos pelo InfoMoney.

Selic pode continuar em alta por conta do preço dos combustíveis; entenda relação
Selic pode continuar em alta por conta do preço dos combustíveis; entenda relação (Imagem: Montagem/FDR)

Segundo o presidente Jair Bolsonaro, o governo apresentará um Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que compensará os estados que zerarem o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o diesel e gás de cozinha.

Essa medida vale até dezembro deste ano. Apesar disso, ela depende de aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLP) 18/2022 pelo Senado. Este projeto prevê um teto de 17% para o ICMS sobre itens como combustíveis e energia elétrica.

Na visão de gestores e economistas, a PEC teria um alto custo fiscal. Isso porque seria bastante difícil um novo governante reverter os benefícios no próximo ano. Além disso, para diminuir a inflação em 2022, ainda acabaria pressionando a inflação de 2023.

Selic pode seguir alta devido à medida sobre preços dos combustíveis

De acordo com o estrategista-chefe da BGC Liquidez, Juliano Ferreira, o maior problema da proposta é que o governo está tirando uma inflação de um ano que está “perdido”, na questão da política monetária, e adicionando no próximo ano. Ainda cabe destacar que o ano de 2023 tem sido o foco do Banco Central.

O estrategista-chefe da Renascença DTVM e ex-chefe do Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab) do BC, Sergio Goldenstein, avalia que as medidas não devem impactar as estimativas que a casa tem para a taxa Selic neste ano.

A Renascença segue estimando que a autoridade monetária deve aumentar, na próxima reunião, os juros em 0,50 ponto percentual. Assim, a taxa básica de juros chegaria a 13,25% ao ano.

Segundo Goldenstein, o foco está mesmo em 2023, no que ele denomina “deslocamento” da inflação — com parte da inflação deste ano passando para o próximo.

O estrategista considera que isso poderia levar a ser “mais tardio e gradual” o ciclo de cortes da Selic, que o Banco Central precisará realizar no ano que vem.

O economista destaca que a única ancora fiscal local é o teto de gastos, “que já tinha perdido credibilidade com a PEC dos Precatórios”. Segundo ele, esse limite “agora, pode novamente ser flexibilizado por uma medida oportunista”.

Silvio Suehiro
Silvio Suehiro possui formação em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Atualmente, dedica-se à produção de textos para as áreas de economia, finanças e investimentos.