Educação financeira para crianças: quando iniciar um diálogo sobre dinheiro com seu filho?

Pontos-chave
  • - O FDR convidou o economista Marco Cordeiro para uma entrevista exclusiva

Crianças e adolescentes passam a se informar sobre o valor do dinheiro. Cada vez mais é comum conhecer jovens que estejam interessados no mercado de investimentos. Com o livre acesso à informação pela internet, cresce a busca por informações relacionadas ao mundo financeiro. Abaixo, veja quais os principais pontos da educação financeira quando se tem filhos.

Educação financeira para crianças: quando iniciar um diálogo sobre dinheiro com seu filho? (Imagem: Montagem/FDR)
Educação financeira para crianças: quando iniciar um diálogo sobre dinheiro com seu filho? (Imagem: Montagem/FDR)

Falar sobre educação financeira tem sido uma realidade um pouco mais comum entre pais e filhos. Nos dias atuais, onde cada vez mais cedo as crianças passam a se relacionar com o dinheiro, é de extrema importância ensinar como gastar de forma segura e consciente.

Para os pais, o principal desafio é desde pequenos orientar a garotada de maneira didática e compreensível. Buscando ampliar o debate sobre essa temática, o FDR convidou o economista Marco Cordeiro para uma entrevista exclusiva.

No texto abaixo, ele orienta os adultos a como passarem a ensinar as crianças a se relacionarem com o dinheiro. Confira:

Qual a melhor forma de ensinar educação financeira ao meu filho?

Muitas famílias acreditam que a educação deve ser efetuada somente nas escolas e universidades e não se preocupam com a educação financeira dos jovens (crianças), sem perceber que a Educação Financeira não faz parte da maioria dos currículos do Ensino Fundamental e Médio. Assim, é comum encontrarmos indivíduos adultos, que ao longo de suas vidas jamais receberam qualquer instrução sobre economia, inflação, poupança, juros simples, juros compostos, etc. Esse mesmo indivíduo precisa tomar decisões rotineiras em sua vida, que envolvem diretamente questões relacionadas à matemática financeira, e, embora ele saiba fazer os cálculos de porcentagem, e na maioria das situações necessite do auxílio de uma calculadora, sua mente não está acostumada a pensar, diferenciar o custo das decisões tomadas, bem como o reflexo desta decisão do longo prazo. Desta forma, posso afirmar a importância da Educação Financeira a partir dos 05 anos de idade, contextualizando o aprendizado por meio de instrumentos didáticos que permitam a criança a compreensão da economia, consumo, trabalho e vida profissional.

Há uma idade certa para passar a debater sobre esses assuntos?

Uma criança da década de 50 comparada a uma criança da década de 2020 não só possuem diferenças pela evolução tecnológica, mas sim pela visão de mundo comercial em que vivem. Como era o comportamento de comprar roupas de uma criança da década de 50, comparadas a uma criança nos dias de hoje?

As pressões do marketing, a cultura do consumo e poder comprar coisas que impressionem os colegas, desperta na criança o desejo de ganhar dinheiro, mas, sem nenhuma instrução, esta pode crescer e se desenvolver de maneira desastrosa na administração de seus recursos.

A ideia é que a Educação Financeira para crianças de 05 a 10 anos de idade possa libertá-las dessas armadilhas, capacitando-as a perceber suas necessidades, de como é regido o mundo comercial e a responsabilidade de suas escolhas.

Se não tenho recursos em sobra, como ensinar a criança sobre o valor do dinheiro?

Para quem tem poucos recursos, compartilhar com a criança as decisões de gastos, de uma maneira lúdica, a qual não se torne um “peso” para criança. Ao separar o dinheiro do supermercado, integrar a criança numa pequena decisão, com R$ 4,00 (quatro reais), devemos comprar um pacote de biscoito/bolacha, ou um refrigerante? Em outra situação demonstrar que não deve gastar os R$ 4,00, e poupar para poder comprar outra coisa mais cara no próximo mês. Saber a criança administrar o “tempo” para ter as coisas, em relação as: atitude de escolha de consumo e poupar.

https://www.youtube.com/watch?v=5esbk607tJ0

Como deixá-lo responsável pelo seu dinheiro? Isso deve acontecer de forma gradativa?

Sim, gradativamente, e não há problema em a criança errar, de fazer escolhas erradas, é melhor errar na infância, ao invés da vida adulta. O importante é mostrar que sempre haverá uma forma de conquistar recursos (renda) através do trabalho. Lembre-se você está ajudando a formar um ser crítico em relação as escolhas relacionadas a dinheiro. É necessário paciência e atenção. O comportamento dos pais, da família também interferem em muito nessa formação. O ideal, é que ao educar financeiramente uma criança, toda a família também viva o processo e aproveite para se reorganizar e tratar da melhor forma seus recursos. Quem está numa posição confortável, deve ensinar aos filhos que é necessário, esforço, trabalho, dedicação e administração, para conquistar estabilidade financeira, e o caminho, é construído ao longo do tempo.

Qual os riscos da ausência da educação financeira no futuro de uma criança?

As pressões do marketing, a cultura do consumo, e poder comprar coisas que impressionem os colegas, desperta na criança o desejo em ganhar dinheiro, mas, sem nenhuma instrução, esta pode crescer e se desenvolver de maneira desastrosa na administração de seus recursos.

No cenário da atual economia brasileira, podemos enxergar que a prática de estímulo ao desenvolvimento econômico adotada pelo Governo, está baseada em incentivar o consumo às famílias, por meio de uma política de facilitação do crédito, redução de alíquotas de impostos para o consumo de bens duráveis; esquecendo o lado negativo do consumo por meio do crédito, o qual compromete a renda de quem o toma, e o expõe ao risco de endividamento.

Segundo PEIC – Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o percentual de famílias que relatam ter dívidas (cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro) alcançou a média de 70,9% das famílias brasileiras, a maior proporção em 11 anos. A cada 10 famílias, 7 contraíram algum tipo de dívida com o sistema financeiro em 2021. Também podemos relacionar o endividamento à falta de informação ao contratar empréstimos sem observar as condições, taxas e custos.

Quais brincadeiras que podem ajudar a ensinar educação financeira para as crianças?

As brincadeiras que relacionam decisões de comprar e vender, de trocar o que você tem por outra coisa, isso é possível de forma simples. Você troca uma bala por um chocolate? Ou um chocolate só pode ser trocado por quatro balas? Brincadeiras assim, podem ensinar o valor e as decisões. O famoso jogo “Banco Imobiliário”, cumpre uma parcela nesse processo, pode ser utilizado como brincadeira para ensinar a criança a tomar certas decisões de investimentos ou compras, o que irá levá-la a ter mais ou menos dinheiro. Mas lembre-se, não pode ser um “peso”, deve ser um ensinamento feliz, saber lidar com o dinheiro deve ser um processo de alegria, sem medo; o objetivo é que a criança quando adulta tenha domínio sobre o dinheiro, e não ao contrário.

Eduarda AndradeEduarda Andrade
Mestre em ciências da linguagem pela Universidade Católica de Pernambuco, formada em Jornalismo na mesma instituição. Atualmente se divide entre a edição do Portal FDR e a sala de aula. - Como jornalista, trabalha com foco na produção e edição de notícias relacionadas às políticas públicas sociais. Começou no FDR há três anos, ainda durante a graduação, no papel de redatora. Com o passar dos anos, foi se qualificando de modo que chegasse à edição. Atualmente é também responsável pela produção de entrevistas exclusivas que objetivam esclarecer dúvidas sobre direitos e benefícios do povo brasileiro. - Além do FDR, já trabalhou como coordenadora em assessoria de comunicação e também como assessora. Na sua cartela de clientes estavam marcas como o Grupo Pão de Açúcar, Assaí, Heineken, Colégio Motivo, shoppings da Região Metropolitana do Recife, entre outros. Possuí experiência em assessoria pública, sendo estagiária da Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco durante um ano. Foi repórter do jornal Diário de Pernambuco e passou por demais estágios trabalhando com redes sociais, cobertura de eventos e mais. - Na universidade, desenvolve pesquisas conectadas às temáticas sociais. No mestrado, trabalhou com a Análise Crítica do Discurso observando o funcionamento do parque urbano tecnológico Porto Digital enquanto uma política pública social no Bairro do Recife (PE). Atualmente compõe o corpo docente da Faculdade Santa Helena e dedica-se aos estudos da ACD juntamente com o grupo Center Of Discourse, fundado pelo professor Teun Van Dijk.