Estagflação no Brasil: conheça efeito que a guerra pode gerar para a economia

Pontos-chave
  • Estagflação significa projeção de crescimento praticamente zero
  • Pandemia do coronavírus e seus reflexos é um dos principais motivos
  • Movimento do dólar nos EUA também impacta a situação do Brasil

A possibilidade do Brasil ficar em um estado de estagflação em 2022 já existia desde o início do ano. Este termo significa que grande parte das projeções do mercado para o crescimento do país era quase zero e de inflação abaixo de dois dígitos, porém, ainda em alta. Os reflexos da pandemia do coronavírus foram semelhantes aos de um conflito. Dependendo da duração, as péssima expectativas para a economia do Brasil podem se concretizar.

A realidade é que mesmo bem antes de se acreditar em uma guerra entre Rússia e Ucrânia, o risco de estagflação do Brasil estava ganhando força semanalmente, na pesquisa Focus. O custo de vida em alta ficando sempre muito próximo do pico primeiro pelo Banco Central, porém nunca o atingindo, já estava agravando as perspectivas. 

Por conta disso, o BC antevia a Taxa Selic elevando mais do que era projetado no início de 2022, a próximo de 12% ao ano até junho. E caso precise, outro tanto para baixar a inflação ao teto da meta, de 5% ao ano. Falando dela, a inflação acaba de bater 11% no IPCA-15 de fevereiro, patamar mais alto desde 2016.

E quais seriam as razões que levariam o clico de alta a permanecer no segundo semestre? Segundo o que foi explicado pelo Banco Central, do movimento do dólar após os juros subirem nos EUA.

E a guerra pode forçar um ritmo de volta aos títulos americanos sem nem precisar do ajuste do Federal Reserve (Fed) como estímulo. E ainda mais quando taxas de juros iniciarem o movimento de alta, a partir do próximo dia 16. Claro que o FED pode pensar melhor antes de pesar a mão, para não descuidar do crescimento dos EUA, como já foi admitido. Porém, não escapa de um aperto de cinto caso queira segurar a maior inflação registrada em 40 anos. 

“Os BCs do mundo ficarão numa encruzilhada. Subir os juros, já que a inflação está pedindo, ou deixar correr mais solto, com medo do impacto recessivo se a guerra se estender? BC hesitando nunca é bom…”, disse Alexandre Espirito Santo, professor do IBMEC-RJ e economista-chefe da Órama ao Valor Investe.

Por conta de medidas adotadas ou em fase de criação em Brasilia, o Espírito Santo começa a enxergar uma possível proteção contra a perda de força da economia mundial. Uma destas medidas é a a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializado), que pode trazer algum estímulo para a produção brasileira. A segunda medida é o montante de R$ 8 bilhões “esquecidos” nos bancos sendo injetados na economia e ainda, a liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Por fim, por conta do avanço da vacinação contra a covid, pode acontecer alguma recuperação do mercado de trabalho.

“Esses fatores, obviamente, não são a última bolacha do pacote, mas podem amortecer efeitos de uma guerra mais longa. Ou seja, um cenário de estagflação é possível, sim, mas não é o meu principal [cenário] por enquanto, porque espero um encaminhamento melhor para toda essa loucura”, disse ele.

Outros fatores 

Além do dólar que acaba deixando a produção nacional mais cara, e que por consequência, os produtos acabam chegando com preços elevados aos consumidores, as matérias primas tendem também a encarecerem. Sendo assim, a pressão inflacionária e para os juros crescerem é maior. Isto pode prejudicar ainda mais o crescimento da economia.

O maior destaque da inflação nos próximos tempos serão os combustíveis, com a oferta da Rússia prejudicada por tempo indeterminado. 

“Se o petróleo chegar a US$ 120 por barril, obviamente, não tem como o IPCA ficar dentro do teto da meta. O BC já avisou, fará de tudo para controlar a inflação, independentemente do que aconteça no mundo e com o crescimento local, o que implicaria juros acima dos 13% ao ano”, disse Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos ao Valor Investe.

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Paulo Amorim
Paulo Henrique Oliveira é formado em Jornalismo pela Universidade Mogi das Cruzes e em Rádio e TV pela Universidade Bandeirante de São Paulo. Atua como redator do portal FDR, onde já cumula vasta experiência e pesquisas, produzindo matérias sobre economia, finanças e investimentos.