Brasileiros estão tirando dinheiro da Poupança; é hora de resgatar?

Pontos-chave
  • Poupança tem a maior retirada de valores desde 1995
  • Aplicação fechou o último ano com resultado negativo
  • Crescimento dos juros e da inflação no Brasil são motivos que explicam as retiradas

No primeiro mês do ano, os saques na poupança superaram os depósitos em R$19,67 bilhões, registrando a maior retirada mensal desde 1995. Em 2021, a aplicação mais popular do país também teve um resultado negativo. Ao longo dos 12 meses, os saques líquidos atingiram R$35,5 bilhões.

Em 2020, porém, o movimento foi no caminho contrário. Naquele ano, os investidores depositaram mais do que retiraram e a captação fechou o ano em R$166,3 bilhões. O mesmo ocorreu em 2019, quando R$ 13,2 bilhões foram captados pela poupança.

Motivos 

Entre os motivos que levaram a esta retirada recorde estão o crescimento dos juros e da inflação no Brasil. Os preços altos refletem no custo de vida obrigando os poupadores a retirar valores da poupança para arcar com gastos que aparecem no início do ano, como IPTU, IPVA, material escolar, entre outros.

Juntamente a estes fatores, também temos um aumento vertiginoso de famílias endividadas no país. 

De acordo com a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) no último mês do ano passado, 74,5% das famílias tinham dívidas. É o maior percentual da série histórica que começou em janeiro de 2010.

“Tem muitas saídas para a caderneta, pagar dívidas é uma delas. O custo da dívida do cartão de crédito, por exemplo, é muitas vezes maior que o rendimento da poupança. E quando a bolsa dá uma animada o pessoal acaba indo junto”, disse Mario Goulart, analista da O2Research ao E Investidor.

Realmente, neste ano, o Ibovespa acelerou em comparação aos pares e acumula uma alta de 9%. O índice iniciou o exercício aos 104,8 mil pontos e atualmente esta a passos  para atingir 114 mil pontos.

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Defasagem

A alta nos juros impactou diretamente a rentabilidade da poupança, fator que impulsionou os saques. A Selic, taxa básica de juros, está em 10,75% ao ano, com expectativas de passar dos 12% no fim deste ano, como foi previsto pelo Boletim Focus do Banco Central. Porém, a poupança está longe de entregar esse nível de retorno.

Segundo a regra, quando os juros estão igual ou abaixo de 8,5%, a poupança rende 70% da Selic. Mas, quando os juros estão acima desse patamar, a caderneta passa a render 0,5% ao mês, o correspondente a 6,17% ao ano. Sendo assim, os retornos não crescem mesmo com o ciclo de alta dos juros.

“A inflação fechou em 10,06% em 2021 e a poupança acabou encerrando o ano passado com a pior rentabilidade real em 31 anos”, disse Leo Dutra, analista de investimentos especializado em Opções ao E Investidor.

A rentabilidade real é a rentabilidade com o desconto da inflação. Quem investiu na poupança no último ano, teve o patrimônio reduzido em 6,37%, de acordo com dados da Economatica.

No entanto, grande parte deste capital bilionário tem ido para outras modalidades de renda fixa, que entregam no mínimo 100% do CDI, patamar próximo da Selic. O relatório anual de pessoas físicas da B3, mostrou que a quantidade investidores ativos no Tesouro Direto atingiu a 1,8 milhão no final do ano passado, um aumento de 26% em comparação a 2020.

O saldo investido nos títulos do Tesouro também subiu de R$ 69,2 bilhões, em 2020, para R$ 76,7 bilhões no último ano. “Vimos migração para títulos do tesouro, renda fixa e até renda variável”, disse Dutra.

No universo da renda fixa, a quantidade de investidores com CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) cresceu 18% no mesmo período, subindo de R$ 6,1 bilhões para R$ 7,2 bilhões. Porém, o aumento mais perceptível foi nas Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) em que foi registrado um salto de 73% na quantidade de CPFs.

“São 688 mil de pessoas físicas em LCA, saldo de R$ 176 bilhões e saldo mediano de R$ 126.757. Importante destacar que, assim como as LCIs, esse produto é isento de imposto de renda, tornando-o atrativo para o investidor em geral”, explicou a B3 em relatório. 

Paulo Amorim
Paulo Henrique Oliveira é formado em Jornalismo pela Universidade Mogi das Cruzes e em Rádio e TV pela Universidade Bandeirante de São Paulo. Atua como redator do portal FDR, onde já cumula vasta experiência e pesquisas, produzindo matérias sobre economia, finanças e investimentos.
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