- FED impacta a economia mundial
- Dólar permanece como a moeda mais importante do mundo
- Bolsas ao redor do mundo registraram quedas na última semana
O banco central dos EUA, o Federal Reserve, é o responsável pela política monetária da maior economia do planeta. Por conta disso, todas as decisões e sinalizações vindas dele, possui uma alta relevância.
Na quarta da semana passada, as bolsas pelo mundo tiveram quedas e o dólar se valorizou logo após a ata da última reunião do FED. No Brasil, o Ibovespa teve queda de cerca de 2% e o dólar subiu, fechando em R$5,71 neste dia.
A razão deste resultado foi a percepção do mercado de uma postura mais rígida do FED diante da inflação chamada de contracionista ou hawkish, podendo acelerar as altas de juros no país que já eram esperadas neste ano.
Nos bastidores deste pensamento, aparece a percepção dos diretores da instituição de que a alta na inflação não é uma condição tão rápida como foi previsto inicialmente e que a recuperação do mercado de trabalho já dá condições para iniciar o abandono da política expansionista, de compra de títulos, juros baixos e injeção de dinheiro, prática adotada em meio a pandemia.
De acordo com especialistas procurados pela CNN Brasil, é natural que aconteça um impacto negativo nos mercados durante este processo e é provável que isto se repita ao passo que o FED mantém um movimento mais contracionista.
No entanto, a intensidade pode não ser tão grande, e fatores internos de cada mercado, inclusive do brasileiro, devem ser considerados.
Razões do impacto
O professor da FEA-USP, Simão Silber, disse à CNN que o dólar permanece como a moeda mais importante do mundo e que os os títulos do tesouro emitidos nos Estados Unidos, chamados de Treasuries, tem “muita credibilidade”.
“Isso significa que qualquer aumento de taxa de juros aumenta a atratividade de comprar títulos americanos. E o dinheiro sai de algum lugar para ir pra lá, particularmente dos países emergentes, como o Brasil”, disse.
Porém, este movimento não impacta apenas estes mercados. O professor destacou que o Japão, com a taxa de juros zerada, e a Europa, que cresceu a cautela ante a inflação mas não aumentou os juros, também perdem investimentos.
Ainda na semana passada, as bolsas europeias caíram após a ata do Fed, inclusive as próprias bolsas norte-americanas também recuaram no dia, com a maior atratividade dos Treasuries.
Paralelo a isso, Simão diz que os juros em baixa no mundo todo em meio a pandemia e com o mercado financeiro recebendo como estímulo mais dinheiro de bancos centrais, o mercado acionário global “disparou nesses anos”.
“As bolsas estavam muito elevadas, mas se os juros sobem, elas despencam, isso é padrão. A postura do Fed (de tirar estímulos e aumentar os juros) não é uma surpresa. O que a gente não sabia era a hora que iria acontecer”.
O “quando” ficou um pouco mais palpável logo depois da ata. A expectativa dominante agora é de quatro altas de juros ao longo do ano, com a primeira delas podendo acontecer já em março. Atualmente, a taxa está entre 0% e 0,25% ao ano.
Na visão do economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, o Federal Reserve seguirá mais um processo de encerrar as injeções que estava realizando na economia, uma vez que a taxa de desemprego, que atualmente está em 3,9%, está atingindo o nível desejado pelo banco central, ao passo que a inflação começa a se afastar das metas, o que necessita de uma mudança de postura.
Futuro do Dólar
Sobre o dólar, Silber disse que não possível prever com exatidão o que acontecerá nos próximos meses. “Ninguém tem bola de cristal. Se aparece notícia boa, o dólar cai, se aparece ruim, ele sobe. Não é um caminho linear, é uma estrada cheia de buraco. Não existe nada que o Fed possa dizer que é uma previsão definitiva, pode ser muito pior ou muito melhor”, finalizou.