China volta a consumir carne brasileira; preços podem aumentar para nós?

Pontos-chave
  • A exportação chinesa da carne brasileira já pode ser retomada a partir de hoje;
  • O embargo aconteceu após dois casos atípicos da doença “vaca louca”;
  • O consumidor brasileiro deve ser afetado pela alta nas exportações;

Nesta quarta-feira (15), o Ministério da Agricultura informou que a China volta a consumir carne brasileira. Desde 4 de setembro, após o Brasil identificar dois casos atípicos da doença “vaca louca”, os embarques tinham sido suspensos. Este país asiático é o principal mercado da carne brasileira.

Segundo o Ministério da Agricultura, “a certificação e o embarque da proteína animal para a China serão normalizados e podem ser retomados a partir de hoje”.

O embargo chinês à carne brasileira já acontecia há quatro meses. Os dois casos atípicos da “vaca louca” foram registrados em Nova Canaã do Norte (MT) e em Belo Horizonte (MG).

A pasta ressalta que a suspensão foi realizada pelo Brasil “em respeito ao protocolo firmado entre os dois países, que determina esse curso de ação” no caso da doença da “vaca louca”, mesmo que do modo atípico. Isso significa que esses animais tiveram a doença de forma esporádica e espontânea.

O secretário de Comércio e Relações Internacionais, Orlando Leite Ribeiro, informa que o Brasil disponibilizou todas as informações solicitadas pelas autoridades da China.

Segundo o secretário, “eles ficaram satisfeitos com o nível de informações fornecidas pelo Mapa”. Ribeiro declara que a equipe brasileira “teve contato com as autoridades chinesas quase que diariamente. Quando as informações técnicas satisfizeram as autoridades chinesas, eles reabriram o mercado.

China é o principal destino das carnes exportadas pelo Brasil

O secretário de Defesa Agropecuária, José Guilherme Leal, afirma que esta “é uma boa notícia para o setor, já que se trata do principal destino de importação da carne bovina brasileira”.

Em 2020, o Brasil exportou US$ 4,04 bilhões de carne bovina para o país asiático. Este número representa 48% do total das vendas brasileiras para o exterior.

Apesar da suspensão desde setembro, as exportações brasileiras da carne bovina para a China já chegaram a US$ 3,87 bilhões em 2021. O valor equivale a 46% das vendas globais do produto.

De qualquer modo, o setor agropecuário foi afetado pelo embargo. Conforme levantamento da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafigo), em outubro o volume de exportações da carne bovina brasileira reduziu 43% — em comparação ao mesmo período do ano passado.

China volta a consumir carne brasileira; preço local pode aumentar?

Com a retomada das exportações, executivos de frigoríficos afirmaram ao Radar Econômico, da Veja, que o valor da arroba da carne voltará a subir.

Durante o período de embargo da China, o preço da arroba diminuiu mais de 20% — com a oferta do produto subindo. Apesar disso, não houve queda expressiva ao consumidor.

Ao G1, o analista da Safras & Mercado, Fernando Henrique Iglesias, alega que os movimentos de alta de preço são repassados de forma mais agressiva pelo varejo.

Por outro lado, quando são movimentos de baixa, o procedimento não acontece da mesma forma. Neste caso, segundo Iglesias, “esses repasses acabam sendo mais discretos. É um perfil do negócio”.

Consumo de carne tem diminuído no Brasil

Cada vez mais, o consumo de carne bovina vem diminuindo no país. Há três anos consecutivos, essa tendência de queda tem sido observada. A estimativa foi calculada pelo especialista da Consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves, à BBC News Brasil.

Em 2020, o consumo de carne no Brasil diminuiu 10% em comparação ao ano anterior. Para 2021, a projeção é de redução de 2% — um consumo de 5,24 milhões de toneladas de carne bovina. Este é o menor valor em 12 anos.

Já ao considerar o consumo por pessoa, o total é de 24,5 kg por ano. Este número é próximo do registrado em 2005, há 16 anos.

Neste ano, dois fatores impactam essa perspectiva: o valor dos produtos e a renda das famílias. Com relação aos preços, as carnes tiveram um grande aumento — com destaque no primeiro semestre.

Ao mesmo passo, a renda brasileira vem recuando. Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, a renda média real (descontada a inflação) dos brasileiros empregados tem caído consecutivamente há 12 meses — desde outubro do ano passado.

Silvio SuehiroSilvio Suehiro
Silvio Suehiro possui formação em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Atualmente, dedica-se à produção de textos para as áreas de economia, finanças e investimentos.