- A estagflação representa uma inflação alta e crescimento estagnado;
- Este cenário tende a impactar a geração de empregos no país;
- Governos locais e bancos centrais passam por dificuldades para lidar com este fenômeno.
O termo estagflação se refere a um cenário de inflação alta, crescimento estagnado, juntamente com grandes níveis de desemprego. Por conta da situação presenciada no Brasil, aumentam as discussões se o país vive este evento econômico.
O fenômeno de estagflação se torna um complicador para governos e bancos centrais — responsáveis por controlar os preços e alavancar o crescimento.
Ao realizar políticas para conter a inflação, a tendência é de desaceleração do crescimento, de modo a provocar desemprego. Na outra ponta, quando existem medidas de incentivo ao desempenho da economia e criação de empregos, a tendência é de resultar em elevação dos preços.
À DW, o economista-chefe para a Europa da consultora de pesquisa londrina Capital Economics, Andrew Kenningham, alega que — como é impossível implementar as duas medidas ao mesmo tempo — não existe nenhuma reação clara que a política macroeconômica possa realizar.
Impacto da estagflação para a população
Ao passar por este cenário, a população passa por duas dificuldades. O primeiro impacto é a diminuição dos empregos — ao mesmo passo em que a economia entra em recessão ou há redução no crescimento.
O outro reflexo é que, diante dos preços elevados, há menor poder aquisitivo das pessoas. Os cidadãos passam a gastar uma parcela maior da renda para bens essenciais. Por outro lado, os gastos tendem a ser menores para outros itens.
À Jovem Pan, o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, afirma que o efeito da estagflação é pior para as classes mais vulneráveis. Segundo ele, a população de baixa renda “acaba tendo que apelar para o emprego de menor qualidade, vagas temporárias”.
Perspectiva do cenário econômico brasileiro
No Brasil, nos últimos 12 meses, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chega a 10,74%. Para este ano, o centro da meta da inflação é de 3,75% — podendo variar entre 2,25% e 5,25%. Neste ano, a taxa já chega a 9,26%, o que significa um número bem acima da meta estabelecida.
Já para 2022, o mercado financeiro estima que a inflação chegue a 5,02%. Para o ano que vem, a meta central de inflação é de 3,50% — podendo oscilar entre 2% e 5%. Sendo assim, caso a projeção se confirme, o país descumpriria novamente a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Por conta da pandemia de Covid-19, todas as principais economias globais lidam com a inflação alta. No entanto, estas nações já contavam com economias mais estabelecidas ou, pelo menos, acima da presenciada no Brasil.
Com relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o mercado financeiro prevê que o crescimento deste ano seja de 4,71%. Contudo, vale considerar que isso deve acontecer com base na queda de 4,1% em 2020.
Em 2022, com o possível fim da pandemia, o Brasil deve passar por dificuldades já observadas anteriormente — que desaceleravam a economia, e travavam o a evolução do PIB. Para o ano que vem, o mercado projeta que o PIB crescerá 0,51%.
O economista-chefe do banco Ourinvest, Fernanda Consorte, à Jovem Pan, afirma que o país já tinha um cenário fraco antes da pandemia. Já com a crise, ela argumenta que houve a necessidade uma grande expansão fiscal, “mas o governo usou isso para gastar mais e angariar votos
Sensação de estagflação no país
No segundo e terceiro trimestre deste ano, o PIB registrou queda — de 0,4% e 0,1%, respectivamente. Quando um país passa por dois trimestres seguidos de queda na atividade econômica, significa que a nação passa por uma recessão técnica.
Em entrevista ao G1, o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, afirma que “mais que a ‘recessão técnica’, a sensação de estagflação está consolidada”. Ele argumenta que “mesmo para o Brasil, uma inflação acima de 10% e elevada e o PIB mostra que a economia parou de vez há 2 trimestres”.
De acordo com Vale — por conta dos valores mais altos e a elevação dos juros —, a expectativa das pessoas que gostariam de retomar as atividades, e impulsionar as compras, colide com o limite de renda.