Baixa no valor do auxílio emergencial e alta na inflação diminui comida dos mais pobres

Pontos-chave
  • Aumento da inflação afeta no preço de itens básicos de consumo dos brasileiros;
  • Desemprego em massa já atingiu mais de 14 milhões de brasileiros durante a pandemia;
  • Auxílio emergencial de 2021 é insuficiente para custear os gastos básicos de uma família.

A crise econômica já é algo que vem refletindo no estilo de vida dos brasileiros há anos, sobretudo na mesa dos mais pobres. A dificuldade ao acesso básico à alimentação foi evidenciada por dois fatores, a alta na inflação e a redução no valor do auxílio emergencial de 2021. 

Baixa no valor do auxílio emergencial e alta na inflação diminui comida dos mais pobres
Baixa no valor do auxílio emergencial e alta na inflação diminui comida dos mais pobres. (Imagem: AJN1)

Para se ter uma ideia, enquanto um dia de trabalho dos brasileiros vale R$ 34,83, o quilo da carne de segunda gira em torno de R$ 40. Ou seja, um dia de serviço dos brasileiros não é o suficiente para comprar 1kg de carne para colocar à mesa.

Para Liane de Souza, vendedora ambulante no interior do Estado de São Paulo (SP), a carne virou um item de luxo. 

“Só quem come carne agora é quem é rico. Nós que somos pobres agora só comemos frango e porco. Um quilo de carne vermelha custa R$ 40. Com R$ 40, eu compro frango para uma semana. Faz muito tempo que tenho vontade de comer um bife”, declarou a trabalhadora em entrevista ao G1. 

Liane ressaltou que a dificuldade de aquisição da carne vermelha não é o único problema que os cidadãos de baixa renda têm enfrentado. Vários outros itens passaram por um aumento nos preços recentemente, um deles é o botijão de gás de cozinha, que gira em torno de R$ 100 ou mais em algumas distribuidoras.

Os valores excessivos são resultado dos impactos da pandemia da Covid-19. A influência da crise sanitária no cenário econômico retirou o poder de compra dos trabalhadores brasileiros. O que antes era uma simples cesta básica com itens alimentícios básicos, agora, pode chegar a R$ 600 em determinadas capitais brasileiras. 

Alta nos alimentos

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que em 12 meses, alimentos padrão na mesa do trabalhador brasileiro tiveram um aumento expressivo. Veja os índices:

  • Arroz: 39,69%;
  • Feijão preto: 19,13%;
  • Carne vermelha: 34,38%;
  • Tomate: 42,96%;
  • Óleo de soja: 84,31%.

A dificuldade de aquisição destes itens, agregado à desvalorização do câmbio brasileiro, resultou na exportação dos alimentos produzidos no Brasil. Esta foi a opção à qual os produtores decidiram recorrer em virtude da desvalorização do mercado interno.

Para a economista sênior do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Patrícia Costa, os produtores ainda terão de enfrentar um outro problema, o das geadas que ocorreram nas últimas semanas afetando a produção. 

“A questão é que as pessoas já não conseguem comprar com tantos aumentos. De um lado tem a oferta pressionando que os preços subam, de outro tem a demanda que está cainda”, explicou.

Aumento na inflação 

No mês de julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma taxa inflacionária de 0,96%, a maior variação desde julho de 2002.

A inflação afeta uma série de custos básicos e fixos dos brasileiros, como a conta de energia, gás de cozinha, combustíveis e alimentos. No período de um ano, a inflação brasileira atingiu o patamar de 8,99%.

Baixa no valor do auxílio emergencial e alta na inflação diminui comida dos mais pobres
Baixa no valor do auxílio emergencial e alta na inflação diminui comida dos mais pobres. (Imagem: MGTM)

Auxílio emergencial e desemprego

Como se já não bastasse a alta na inflação e nos preços dos alimentos, arcar com o custo de vida elevado tem sido ainda mais difícil com o desemprego em massa. A taxa de desemprego no primeiro trimestre de 2021 chegou a 13,7%, ou seja, 14,8 milhões de pessoas sem uma renda fixa. 

Muitos desses brasileiros contavam com o auxílio emergencial, porém o valor reduzido do benefício este ano não tem sido capaz de suprir os custos básicos. As parcelas de R$ 150, R$ 250 e R$ 375 não são o suficiente para pagar uma conta de energia, água e colocar comida na mesa. A falta de trabalho retirou o poder de compra para a própria subsistência.

A alta na inflação afeta, principalmente, as famílias com renda per capita de até dois salários mínimos e meio.

O economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Matheus Peçanha, ressaltou que “está quase impossível fazer frente aos grandes aumentos com o auxílio emergencial de R$ 150. Quando as políticas públicas não alcançarem, as pessoas vão começar a depender de caridade”.