O capitalismo é, antes de tudo, um sistema cíclico. Isto significa que periodicamente uma economia capitalista irá passar pelos estágios de prosperidade e recessão. As consequências do caso do novo coronavírus apontam para uma forte recessão.
Com a evolução tecnológica, os ciclos econômicos têm ficado cada vez mais acentuados. Da mesma maneira que a tecnologia possibilita grandes saltos econômicos, o sistema interdependente pode derrubar vários países ao mesmo tempo.
Alguns economistas, como Nikolai Kondratiev, demonstraram estatisticamente os ciclos de ondas longas formados com o passar do tempo.
Esse tipo de configuração mostra que os períodos de estabilidade e crescimentos econômico não são eternamente duradouros e que a cada novo ciclo, todo o sistema se configura de uma maneira diferente.
Cada ciclo também conta com um ator principal, um país que lidera a atividade econômica durante aquele período e que determina as regras do comércio internacional. Foi assim com a Inglaterra durante a Revolução Industrial, e é assim com os EUA após a Primeira Guerra Mundial.
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Os últimos anos, no entanto, vinham acumulando um grande período de crescimento, principalmente para a economia americana. Mesmo com sinais de esgotamento para o crescimento global, os EUA estavam em níveis de pleno emprego e crescimento econômico.
No final de 2019, muitas economias já davam sinais de fim do crescimento. Os níveis de juros praticados pelos Bancos Centrais ao redor do mundo já eram os menores históricos.
Como o corte de juros é um tipo de incentivo econômico, os juros praticamente zerados nos países desenvolvidos mostravam o fim da linha para incentivos monetários.
Se a economia global já estava a espera de um período de recessão, a atual crise do coronavírus parece ter dado o empurrão final para o fim do maior ciclo de crescimento da história do capitalismo.
Como a pandemia do coronavírus afetou o mercado internacional?
As bolsas de valores ao redor do mundo, medem principalmente as expectativas do mercado com relação à economia.
Se os investidores estão pagando cada vez mais pelas ações de uma empresa, é um sinal de que esperam um ano favorável para a economia, permitindo o crescimento da produção, das vendas e consecutivamente dos lucros futuros.
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O contrário também é verdade, parte das grandes quedas que vimos com a chegada do coronavírus, foi fruto do receio dos investidos com a possibilidade das empresas pararem de produzir, vender e lucrar.
Parte do impacto econômico também se deve a interdependência das economias globais, ou seja, como um mesmo produto tem partes feitas em diferentes países, a paralisação de uma economia afeta muitas outras em um efeito dominó.
As medidas de contenção que levaram ao fechamento das fronteiras internacionais também vão dificultar a realização de comércio nos próximos anos, países como o Brasil, que dependem da exportação de seus produtos, podem acabar tendo dificuldades para escoar a sua produção.
Crise na demanda
Problemas com o escoamento de produtos também foram o início da Grande Depressão de 29, quando produtores do mundo todo não tinham para quem vender as suas mercadorias, gerando inúmeras falências e problemas de abastecimento.
As similaridades entre a crise de 29 e a atual não param por aí, podemos listar algumas:
- Crescimento da produção industrial – O avanço da tecnologia permitiu um grande aumento na produção de mercadorias;
- Quedas nas taxas de juros – Com juros mais baixos, os investidores tiraram os recursos dos setores produtivos para a bolsa de valores;
- Crise de demanda – A Europa que se recuperou da Primeira Guerra diminui o nível de consumo.
Podemos notar que os três fatores de 1929 se repetiram de 2019 para 2020. Os juros globais, inclusive no Brasil, estavam nos níveis mais baixos historicamente, o que aumentou o número de investidores alocando na bolsa de valores.
Somando os últimos fatores com a queda no consumo global, principalmente devido ao isolamento e outras medidas contra a transmissão do coronavírus, temos uma preocupante similaridade.
A crise atual ainda tem o agravante de atingir um número maior de países, podendo significar uma queda ainda maior nos padrões de consumo atuais.
É claro que os governos de todos o mundo estão se esforçando para antecipar esse movimento. Os EUA, por exemplo, anunciou o maior pacote de incentivo econômico da história, na ordem de trilhões de dólares. Países da União Europeia também anunciaram medidas similares com patamares menores.
Só nos resta saber se todo o esforço será suficiente para amenizar os impactos da crise atual, evitando que passemos por uma depressão pior que a de 1929.