Pode soar estranho à primeira vista: alguém adota um cachorro, um gato ou até um pássaro e decide chamá-lo pelo nome de uma pessoa que já morreu.
Mas, segundo a psicologia, essa prática tem profundos significados emocionais e simbólicos. Além disso, revela muito sobre a forma como lidamos com o luto e com os vínculos afetivos.
O fenômeno, aliás, não é raro. Ele aparece em famílias que perderam entes queridos e, de forma carinhosa, escolhem homenageá-los por meio dos animais.
O nome passa a funcionar como um elo entre o passado e o presente, uma forma de manter viva a lembrança de quem partiu.
Luto e os “laços continuados”
A explicação mais aceita vem da chamada teoria dos “laços continuados” (Continuing Bonds), desenvolvida por psicólogos como Dennis Klass e Phyllis Silverman.
Segundo essa visão, manter uma conexão simbólica com quem morreu é algo natural e saudável. Ou seja, algo diferente da antiga ideia de que “superar o luto” significava se desligar completamente.
Nesse sentido, dar o nome de uma pessoa falecida a um pet é um modo de preservar a presença emocional desse alguém.
O animal se torna, de certo modo, um guardião da memória, como um lembrete afetivo que transforma a ausência em companhia.
Atribuir humanidade e amor aos animais através do nome
Pesquisas recentes também apontam para outro aspecto: a humanização dos animais de estimação.
Estudos publicados no Journal of Human-Animal Interaction e no Frontiers in Veterinary Science mostram que muitos tutores projetam em seus pets características humanas. Pontos como empatia, lealdade e até a sensação de “pertencer à família”.
Nesse contexto, usar um nome humano é quase inevitável. E quando esse nome pertence a alguém amado que já se foi, ele carrega ainda mais significado emocional.
O animal, então, não substitui a pessoa, mas seu nome ali, representa a continuidade do vínculo afetivo.
Um tipo de memorial vivo
Além do aspecto psicológico, há também o simbólico: nomear um pet com o nome de quem partiu é uma forma de ritualizar a memória.
Assim como plantar uma árvore ou guardar uma fotografia, o gesto ajuda a pessoa a ressignificar a perda e expressar o amor de maneira positiva.
Segundo o estudo Pet Death and Owners’ Memorialization Choices (SAGE, 2022), rituais de lembrança — mesmo simbólicos — ajudam na regulação emocional e fortalecem o processo de luto saudável.
Mais amor, menos estranheza
Portanto, quando alguém chama o cachorro de “Dona Maria” ou o gato de “Pedro”, não há motivo para espanto. Pode ser apenas uma forma delicada e humana de dizer: “você continua aqui comigo”.
Um pequeno gesto, porém, cheio de amor e segundo a psicologia, um caminho bonito para transformar a saudade em afeto.





