- Pessoas físicas tendem a registrar perdas em operações de day trade;
- As perdas destas pessoas aumentaram ao longo dos anos;
- Pesquisas anteriores também indicaram a tendência de perdas nestas operações.
As pessoas físicas tendem a registrar prejuízo com operações de day trade em comparação ao lucro de pessoas jurídicas. A pesquisa foi realizada pelo economista Bruno Giovannetti, professor de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV).
Segundo gráfico divulgado pelo economista, via Twitter, entre 2012 e 2017, as pessoas físicas que realizaram operações de day trade — em minicontratos futuros do índice Ibovespa (WIN) e dólar (WDO) — registraram prejuízo.
Por outro lado, os investidores pessoa jurídica — geralmente, investidores institucionais, corretoras e fundos —, apresentaram lucros crescentes com day trade no mesmo período.
Para as pessoas físicas, o economista apontou um prejuízo total que se tornou mais ao longo dos anos. Conforme gráfico divulgado no Twitter, foi mostrada a soma dos rendimentos das PFs, desde 2012, dia a dia:
- 2012: perda de R$ 11 milhões
- 2013: perda de R$ 17 milhões
- 2014: perda de R$ 34 milhões
- 2015: perda de R$ 65 milhões
- 2016: perda de R$ 163 milhões
- 2017: perda de R$ 272 milhões
Já para as pessoas jurídicas, o levantamento aponta uma direção inversa. Ao longo dos anos, as PJs foram apresentando ganhos:
- 2012: ganho de R$ 5 milhões
- 2013: ganho de R$ 9 milhões
- 2014: ganho de R$ 13 milhões
- 2015: ganho de R$ 35 milhões
- 2016: ganho de R$ 70 milhões
- 2017: ganho de R$ 110 milhões
As quantias de perdas ou ganhos não precisam bater precisamente. Isso porque nem todas as contrapartes das PFs são day-traders. Elas podem haver negociado com PFs ou PJs que estão montando posições que foram montadas antes — ou serão desfeitas posteriormente.
Motivos para a diferença entre a performance nas operações de day trade
Ao Valor, Giovannetti informa que o grande motivo para a diferença, entre a performance das PFs e PJs, pode ser devido à tecnologia envolvida para conseguir realizar operações de day trade lucrativas.
Com a chegada das operações de alta frequência — realizada por computadores programados para reagir em milissegundos à movimentações de valor dos ativos —, a pessoa física não consegue competir, de forma igual, com grandes institucionais.
Para que a pessoa seja bem-sucedida no negócio de movimentações diárias, é imprescindível que seja rápida a execução das ordens. Contudo, acima da velocidade do pensamento e conexão de internet de uma pessoa física.
Para isso, existe a necessidade de investimento considerável em desenvolvimento de algoritmos e programação de robôs — que são instalados em servidores exclusivos que são conectados fisicamente ao lado de computadores da B3.
Outro aspecto fundamental é a capacidade de analisar um número considerável de negócios e de ordens de compra e venda não executadas. Para realizar esse tipo de acompanhamento, existe a necessidade de, regulamente, investir em programas sofisticados de computador.
O crescimento de perdas das PFs também pode ser explicado pela alta no número de investidores individuais que arriscam nas operações de minicontratos.
Conforme os dados do economista, até meados de 2015, houve aproximadamente 1 mil a 2 mil investidores realizando day trade com minicontratos. Já no fim de 2017, o número subiu para quase 15 mil.
Sendo assim, com mais PFs registrando perdas em mais operações, o prejuízo sobe em escala considerável.
Outro possível motivo para as perdas de PFs é a facilidade maior de realizar operações alavancadas. Isso por conta da corretagem zerada em diversas instituições — e a diminuição das margens de garantia que devem ser depositadas nas corretoras para aplicar nesses contratos.
Pesquisas anteriores indicaram perdas para quem realiza day trade
Anteriormente, o economista da FGV já fez estudos procurando entender a má performance das pessoas físicas que realizam negócios de compra e venda diária de contratos de derivativos na bolsa de valores.
Bruno Giovannetti utiliza dados concedidos pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), diante de um convênio, inicialmente, firmado com a Universidade de São Paulo (USP).
De modo geral, a conclusão dos estudos anteriores apontou que grande parte dos investidores possuem prejuízo — ou lucro muito pequeno — com operações de day trade.
Somente uma minoria desses investires registra ganhos consideráveis. Deste total, poucos são, suficientemente, consistentes para repetir os lucros por muito tempo.