A discussão sobre como deve funcionar o trabalho por aplicativo voltou ao centro do debate nacional. Uma pesquisa recente do Datafolha, encomendada pela Uber, revela que a maioria dos motoristas não deseja vínculo CLT.
Além disso, este grupo prefere manter a liberdade de escolher seus horários e volume de trabalho.
O levantamento reforça um ponto recorrente: muitos trabalhadores veem as plataformas como uma forma de autonomia financeira, sobretudo, em períodos de alto custo de vida.
Motoristas rejeitam CLT e defendem flexibilidade
De acordo com o Datafolha, 60% dos motoristas afirmam que não gostariam de trabalhar sob o regime da CLT.
Entre os que têm opinião formada, esse número sobe para cerca de 70%.
Para esses profissionais, a carteira assinada significaria perder a flexibilidade de definir quando e quanto trabalhar. Que seria, inclusive, uma das principais vantagens percebidas no modelo atual.

Além disso, o estudo mostra que 54% dos motoristas não aceitariam migrar para CLT mesmo ganhando o mesmo valor líquido que recebem hoje. Ou seja, a defesa pela autonomia não se limita ao fator financeiro.
Ela também está ligada ao controle da rotina e à possibilidade de usar a atividade como complemento de renda ou opção temporária.
Regime intermitente também não agrada
Outro ponto analisado pela pesquisa foi o regime intermitente, criado em 2017. Nele, o trabalhador pode ser chamado apenas quando houver demanda.
Para 66% dos motoristas, esse modelo não se encaixa à realidade do trabalho por aplicativo, que depende de constância, demanda variável e escolha pessoal de horários.
Quando se excluem os que não souberam responder, o índice de rejeição chega a 76%. Isso reforça que soluções prontas dentro da CLT não atendem ao formato de trabalho que se consolidou nos últimos anos com as plataformas digitais.
O que os motoristas esperam da regulamentação?
Apesar da rejeição ao modelo tradicional de emprego, os motoristas não descartam a necessidade de proteção social. No entanto, suas prioridades são diferentes daquelas previstas pelos modelos trabalhistas comuns.
A pesquisa mostrou que:
- 52% desejam apoio para compra ou manutenção do veículo, como linhas de financiamento mais acessíveis.
- 17% destacam a importância da previdência, seja pública ou privada.
- 21% defendem que o governo não deve intervir, mantendo o modelo atual.
Isso indica que a regulamentação ideal, na visão dos motoristas, seria uma que preserve a autonomia, mas ofereça segurança e amparo financeiro, especialmente para lidar com custos e riscos da atividade.
Perfil do motorista e motivação
Segundo o Datafolha (via UBER):
- 90% são chefes de família.
- 58% possuem outra fonte de renda.
- 72% pretendem continuar trabalhando com aplicativos.
Além disso, 87% afirmaram que começaram na atividade por causa do aumento do custo de vida. Ou seja, o trabalho por aplicativo cumpre um papel econômico importante de geração de renda em momentos de crise ou mudança profissional.
Os dados mostram que a regulamentação não pode simplesmente importar modelos tradicionais de emprego. Os motoristas querem autonomia com segurança, não um retorno ao formato rígido da CLT.
Assim, o desafio para governos e plataformas é encontrar um meio termo que garanta proteção sem eliminar a liberdade que tornou o trabalho por aplicativo uma opção viável para milhões de brasileiros.

