A última semana foi marcada por uma triste notícia para os fãs de livros de todo o Brasil. A tradicional Livraria Cultura teve sua falência decretada pela Justiça. Depois de uma longa batalha no processo de recuperação judicial, a empresa não conseguiu sobreviver. E o motivo não é nenhuma novidade e já afetou, e deve afetar, outras empresas.
O Caso Livraria Cultura
Não é novidade pra ninguém que o cenário econômico para empresas que dependem de forma direta do varejo no Brasil, ficam a deriva do contexto e suas peculiaridades que fazem parte direta do envolto das políticas econômicas do Brasil.
Com sua maior sede localizada na Avenida Paulista, a Livraria Cultura fazia brilhar os olhos de quem adentrava pelo tamanho, conforto, silêncio e todos os serviços muito bem executados pelas políticas adotadas desde o início, cultuada pela família Hertz.
Com quase 80 anos de história, a empresa acabou acumulando uma impressionante dívida ativa de mais de R$ 285 milhões e já vinha tendo problemas judiciais desde seu primeiro pedido de Recuperação em 2018.
Desta vez, a falta de pagamento de uma das pendências no valor de aproximadamente R$ 1,6 milhão, foi o estopim para que os juízes incumbidos deste trânsito judicial, decretassem o fechamento oficial da empresa.
Apesar da possibilidade de recorrer, a sede da Livraria Cultura na Avenida Paulista, já foi esvaziada e fornecedores já empacotam os produtos para liquidações, um triste fim de uma gigante da cultura e principalmente, o fim do sonho da Dona Eva Hertz, fundadora da empresa.
O cenário e o aparecimento de outros casos
Vagner Mayer, analista macroeconômico e investidor, especialista em políticas econômicas e trading, afirma que as políticas adotadas no Brasil nunca favoreceram empresas de comércio direto e empresários do setor do varejo.
“Por ser emergente e termos um alto endividamento que desfavorece a linha de investimentos consolidados nas necessidades primárias do país, o Brasil peca em não ter um modelo de incentivo fiscal que proporcione à empresas que dependem diretamente do crédito para sobreviverem”, diz Mayer.
Assim, de acordo com o especialista, empresas destes segmentos possuem dívidas alavancadas com grandes bancos e recorrem em rolagens em cima de uma taxa de juros desancorada. Elas ainda necessitam lidar com a aba manufatureira que encarece completamente o custo operacional dos produtos e consequentemente o repasse para o cliente final que também está neste mesmo ciclo de dependência de um país que pouco cresce.
“Neste cenário, aliado a uma inflação que ano pós ano tem ficado fora de suas metas, escândalos de corrupção, baixo investimento e propostas para assegurar empresas do nicho, fica muito complicado a sobrevivência duradoura por muitos anos e não é uma exclusividade da Livraria Cultura”, explica Mayer.
Recentemente ainda aparecerem outros episódios preocupantes, como por exemplo o caso da Magazine Luiza, que saiu de um valor de mercado de aproximadamente R$ 250 bilhões para R$ 11 bilhões, exatamente pelo cenário de juros altíssimos, inflação e baixa perspectiva futura.
Outro exemplo muito recente e impactante foi o da Americanas, que entrou na Justiça para se recuperar e acumula dívidas de aproximadamente R$ 45 bilhões. Também recente há o caso da Lojas Marisa, que anunciou dificuldades de pagamento de seus passivos e títulos de compromissos com grandes bancos.
“Isso tudo é uma cadeia que vem de muitos e muitos anos, à se analisar por empresas que já foram gigantes e deixaram de existir, como os casos de Mappin e Ricardo Eletro, que já tiveram seus tempos de glórias e grandes lucros porém, acabaram altamente endividadas até decretarem falência, por todos os cenários que desfavorecem o crédito seguro no país.