Apesar de estar vivendo uma grande crise financeira, com direito a pedir recuperação judicial, o valor dos dividendos distribuídos pelas Americanas (AMER3) nos nove primeiros meses de 2022 foi o maior da história da companhia, segundo dados revelados em levantamento do TradeMap.
Assim, entre janeiro e setembro de 2022, foram distribuídos mais de R$ 333 milhões em dividendos pela Americanas aos seus acionistas. O valor fica atrás apenas do que foi pago pela empresa varejista Via, em 2012, quando distribuiu mais de R$ 394 milhões em dividendos.
Ainda de acordo com o levantamento, a Americanas foi a única a pagar dividendos em todos os anos da última década, se comparada com as suas duas maiores concorrentes – a Via e a Magazine Luiza. A Magalu não dividiu proventos com seus acionistas em dois anos (2013 e 2016), já a Via não fez a remuneração cinco vezes (2014 e no período entre 2019 e 2022).
Dessa forma, o montante total distribuído foi de R$ 1,9 bilhão, sendo a maior parte paga pelas Lojas Americanas que concentrava as operações das lojas físicas do grupo.
Segundo apuração da coluna Pipeline, do jornal Valor Econômico, em 10 anos cerca de R$ 700 milhões foram desembolsados em remuneração aos executivos da varejista, seja em bônus, salários ou pagamento de ações.
Entretanto, uma dúvida levantada pela análise do TradeMap se manifesta através da pergunta: “Como a Americanas conseguia distribuir lucros aos seus acionistas com um rombo contábil orçado em mais de R$ 40 bilhões?”.
Americanas paga dividendos mesmo com rombo
O fenômeno do pagamento de dividendos da Americanas pode ser explicado através da sua inconsistência contábil. Segundo especialistas, nos últimos dez anos houve um crescimento enganoso dos lucros da empresa e as despesas foram reduzidas. Por isso, a companhia pode distribuir quantias maiores. O que não seria possível se a real situação fosse conhecida.
“A perícia que deverá ser feita é que vai apontar se foi tudo feito de caso pensado e se o recorde de dividendos em 2022 foi com os executivos tendo ciência. Caso ela tivesse reportado a realidade, não daria para pagar esse dividendo recorde, ainda mais porque o mercado reagiria muito mal”, afirmou o analista da Empiricus, Fernando Ferrer.
De acordo com o analista da Levante, Flávio Conde, é preciso que os balanços da Americanas sejam republicados, além da convocação de antigos executivos para apontarem onde está o rombo recém-descoberto.
“Nem auditores experiente ou professores de contabilidade com livros publicados estão conseguindo encontrar o rombo nos balanços”, finalizou.