O poder dos incentivos financeiros

Se você se indagar sobre a estimativa de quantas pessoas no mundo podem ser realmente classificadas como loucas, provavelmente uma resposta próxima de 5% virá à sua mente. Todavia, se pensasse sobre quantas estariam dispostas a fazer alguma loucura se houvessem incentivos suficientes, é provável que a sua resposta subiria vertiginosamente para 50% ou mais.

A Psicologia Financeira

Basicamente, o que podemos entender é que a divergência entre a primeira e a segunda resposta na lógica originalmente apontada por Morgan Housel (autor do best-seller A Psicologia Financeira) demonstra o poder dos incentivos.

Segundo o autor, incentivos estão entre as forças mais poderosas do mundo porque podem fazer as pessoas justificarem ou defenderem praticamente qualquer coisa em nome de um prêmio desejado. Como Benjamin Franklin citou memoravelmente, “Se você quer persuadir, apele para os interesses e não à razão.”

No raciocínio semelhante de Franklin e Housel, nota-se a interpretação de que os incentivos servem como combustível para as tramas que justificam as crenças ou as ações humanas.

Além de sair da linha de pensamento de um dos founding fathers americanos do século dezessete até chegar no principal expoente de finanças comportamentais dos tempos atuais, esse tipo de entendimento também é compartilhado por um dos maiores investidores de todos os tempos.

A Psicologia dos Erros de Julgamento Humano

No artigo A Psicologia dos Erros de Julgamento Humano, Charlie Munger mostra que entender sobre como funciona a nossa mente e a lógica dos incentivos são alguns dos muitos pilares da sabedoria mundana que deve ser perseguida por todos os que desejam se tornar investidores completos:

“O homem tem uma natureza basicamente decente, no entanto, impulsionado consciente e inconscientemente por incentivos, ele se desvia para um comportamento imoral para conseguir o que quer, um resultado que ele facilita justificando para si o seu mau comportamento.”

Exemplo de incentivo financeiro

Incorporando esse modelo mental à análise de empresas, Munger recorda o caso em que a empresa de logística FedEx resolveu boa parte dos atrasos em seu negócio ao propor que os funcionários responsáveis deixassem de ser pagos por hora trabalhada, mantendo os ganhos constantes e os liberando assim que os envios fossem corretamente preenchidos.

É possível notar que a lógica dos incentivos não foi vilanizada e nem excluída, mas apenas posta para jogar ao lado da eficiência. Com o poder dos incentivos corretos, os exatos mesmos indivíduos mostraram aptidão para render frutos que não estavam entregando antes.

Por isso, Munger também é enfático ao dizer que bastam os incentivos (e não as pessoas) serem expostos, que os resultados podem ser previstos.

Os incentivos financeiros da bolsa

Ao analisar uma ação listada em bolsa, uma das principais ferramentas para investigar se a empresa costuma trabalhar com os incentivos corretos e robustos é observar a política de remuneração publicada no formulário de referência.

A falta de um plano de remuneração variável baseada na performance de longo prazo das ações (três anos ou mais) merece um sinal de alerta, já que pode incentivar executivos a tomarem decisões que comprometem o futuro para garantir alguns louros no presente.

Os indicadores considerados nas propostas de bônus anuais também devem ser pontos de atenção. Quando priorizam crescimento e não consideram retorno, podem incentivar maus investimentos em expansões que vão apenas inflar as receitas, sem contribuir propriamente para a geração de valor ao acionista.

Por fim, vale destacar que não faltam incentivos de outras naturezas, como os que tratam sobre a necessidade humana de se manter dentro de um grupo social.

Apesar de carregar uma lógica tribal no lugar das outras estritamente financeiras já comentadas, nós investidores devemos manter atenção constante para evitar tal inclinação natural. Do contrário, podemos cair na custosa armadilha do efeito manada.